terça-feira, 29 de maio de 2012

III Encontro de Blogueiros e o Elefante.

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Realizou-se neste fim de semana, em Salvador, Bahia, o III Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas. Participei do evento, tomando cuidado de assistir os debates que julgo mais interessantes enquanto blogueiro.

Meu ponto de vista à respeito do Encontro - quero deixar claro que é uma opinião pessoal - é a mesma desde o I Encontro, há dois anos, em São Paulo.
Pouco se debate sobre o papel dos blogs pequenos; a atenção é toda voltada a jornalistas, preferencialmente, conhecidos, que são os únicos a ter voz na organização e montagem do programa.

Não quero me referir a nenhum blogueiro presente no evento; a intenção deles pode ser nobre - e acredito que é - mas percebe-se, por trás de suas falas, um exercício de marketing voltado a divulgar pontos de vista pessoais. Não demonstram levar em conta o que e como pensam os demais: somos apenas ouvintes.

Mesmo que, a cada debate, o microfone seja franqueado à platéia para perguntas ou exposição de idéias. Mais ou menos como numa sala de aula, é o professor que fala para o aluno que, ao final, lhe é concedido o direito a esclarecer suas dúvidas.

Nada contra. É o posicionamento que esperava ver.
O que me incomoda, na verdade, é a forma passiva como os blogueiros-alunos assumem a postura de platéia. Será por causa da idade?

Me impressionou a quantidade de blogueiros na faixa dos 50 anos. Para mais! Éramos maioria, apesar da presença de uma galera vibrante e entusiasmada, 20 e poucos anos, cheia de sonhos e vontade de lutar. Talvez a velharada que lutou no passado, nas ruas, promoveu passeatas e correu da polícia - ou foi presa - tenha se acomodado. Tenho a nítida impressão de que muitos de nós resolvemos optar pela via confortável do Twitter, Face e Blogs por total incapacidade de mobilizar a galera com palavras de ordem. Sair à rua, nem pensar; a artrite, a sinusite, a labirintite falam mais alto a esta altura do campeonato ...

Deve ser porisso que não gostei dos encontros de blogueiros progressistas, por não ser capaz de vislumbrar a blogsfera como meio de mobilização de massas, por mais que estejamos tentando difundir idéias. O sucesso relativo alcançado até agora, elegendo alguns representantes de esquerda realmente progressista, não se deve ao nosso esforço, apesar de reconhecer que temos algum peso.

Quando era garoto, nos tempos duros e sombrios, sabia que a luta se ganha na rua. Hoje, tenho mais firme esta certeza. Não vejo a blogsfera progressista, do jeito que está, ter capacidade de mobilizar as pessoas. Falamos para nós mesmos, nos aplaudimos e repercutimos a nós mesmos, sem medida de que não estamos alcançando nada a mais. Este encontro de blogueiros foi apenas a confirmação, para mim, do que já sabia.




É claro que houveram coisas interessantes para ouvir. Não sou pessimista e tirei algum proveito do evento.

Dois momentos me chamaram a atenção.
Um, foi a mesa com a participação de estrangeiros. Outro, foi a fala do Ex-Ministro Franklin Martins.

Sob o tema Midia e blogsfera: experiências internacionais, falaram Andres Conteris (Democracy Now e Ocuppy Wall Street - EUA); Osvaldo Leon (Agência Latinoamericana de Informação - Equador) e Iroel Sanchez ( blog La Pupila Insomne - Cuba).

Infelizmente para a maioria da platéia, suas falas foram em espanhol e muitos nada entenderam, apesar do esforço deles em gastar o portunhol. Era visivel o desinteresse de muitos que deixaram o local. Uma pena.

Suas intervenções foram no sentido do comportamento da midia internacional, sobretudo, a latinoamericana,  mostrando um jeito quase uniforme de ação dos meios de comunicação na América do Sul.

Andres Conteris, por exemplo, falou do incômodo que Ocuppy Wall Street trouxe para o governo nos EUA e de como este movimento - nascido nas ruas !!! - está crescendo e se espalhando pelo mundo, da mesma forma que a Primavera Árabe mudou a relação de poder em alguns países.

Osvaldo Leon trouxe o tema da informação, de sua forma e conteúdo, para o debate. Citou exemplos bem sucedidos de enfrentamento aos impérios das comunicações na Argentina e na Venezuela. Salientou, ainda, a importância da inclusão dos movimentos sociais na luta pela democracia na comunicação. As ruas!

O cubano Iroel Sanchez, por sua vez, relatou sua dificuldade em lidar com a contra-propaganda norteamericana na Ilha e do esforço que os blogueiros cubanos fazem na busca de repelir as mentiras que lhes são atiradas desde Miami. Comentou do Movimento para libertação dos 5 cubanos presos nos EUA por espionagem e afirmou que os EUA ataca a liberdade na internet. Por fim, fez uma analogia entre escolas e internet ao dizer que Che Guevara falava que a Universidade devia ser pintada de negro, branco, mulato, operário e camponês, e assim deve ser na internet.

Este blogueiro, sem autorização dos demais colaboradores deste blog, tomou a liberdade de convidar Iroel a ser nosso colaborador estrangeiro, desde Cuba. Ele aceitou. Estamos, agora, tratando de acertar os detalhes para que ele passe a escrever aqui também.

A exposição mais interessante de todas, na minha modesta opinião, foi a de Franklin Martins.
E é aí que aparece o elefante do título do post.

Martins pediu calma e paciência. Como Ministro do governo Lula, esteve dentro do poder por 4 anos. Pôde ver como as coisas funcionam, não somente no Executivo, mas no Legislativo também. Disse ser inevitável o novo Marco Regulatório para a comunicação eletrônica. Insistiu que tudo o que queremos está na Constituição; só devemos exigir que se cumpram as leis ali contidas para acabarmos com o monopólio da midia.

Franklin Martins acredita que sairemos vitoriosos se tivermos capacidade de mostrar à sociedade que queremos apenas a Constituição, só assim seremos maioria. A sociedade é a rua!

A imagem do elefante, ele usou para se referir ao Brasil.
Um animal que move uma pata de cada vez, lentamente, tratando de deixar as outras três no chão. Não olha para trás, mas sabe o que aconteceu. Pode ser rápido se quiser, mas se sente mais seguro se caminhar aos poucos.

No Brasil, de acordo a Martins, as conquistas acontecem lentamente, mas são mais sólidas. Podem ser mais demoradas, mas é muito mais difícil retroagir. É assim que ele vê a liberdade na internet, da opinião, da imprensa e da sociedade em geral. Acredita que estamos no caminho certo.

Enfim, continuo desconfiado que o tempo que dispendemos diante de um computador não é suficiente para mobilizar a sociedade. Nem os blogs progressistas - agindo para dentro - demonstram ter esta capacidade.
É isso.

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