quarta-feira, 18 de abril de 2012

A falácia da liberdade de imprensa

O post de hoje tem como base a palestra do presidente do Grupo RBS no Fórum da Liberdade. Desculpem, car@s leitor@s, mas vou chover no molhado. O sujeito em questão, que atende pelo nome de Nélson Sirotsky, faz insinuações contra deputados que, segundo ele, atentam contra a liberdade de imprensa ao propor leis “direcionadas à produção da mídia brasileira”, segundo o site Comunique-se.
Ele não citou nomes de parlamentares, mas foi bem explícito ao criticar o governador, Tarso Genro, o mesmo que responde pela concessão de gordo patrocínio do governo ao grupo que exerce o monopólio da comunicação no Rio Grande do Sul. O alvo da crítica foi, claro, o Conselho de Comunicação, cuja discussão está correndo no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Para Sirotsky, “qualquer ‘regulação’ para o setor de mídia tem o objetivo de interferir no trabalho de jornalistas e veículos de comunicação”. Deve ser muito bom esse curso de comunicação nas universidades do país, a ponto de formar gente que não erra. Nunca.
Engenheiros, médicos, advogados, biólogos, dentistas etc. etc. têm órgãos de regulação do exercício da profissão. Por que os jornalistas são tão especiais? A profissão é tão importante quanto as outras citadas, e por isso é tão importante que ela seja exercida da melhor forma possível. É por isso que as profissões têm conselhos.
E olha a contradição: “Para o presidente da RBS, o povo é quem deve debater sobre o tema de controle da imprensa”. Pois bem, meu caro, é justamente para propôr um debate com representatividade de diversos setores da sociedade que o conselho precisa existir. O povo, quando organizado, incomoda, daí não vale mais. O povo pode decidir, desde que quieto.
O que precisamos, ao contrário, é brigar pela maior representatividade do Conselho de Comunicação gaúcho, por enquanto se encaminhando para uma discussão muito acanhada, dominada pela mídia corporativa.
Imprensa concentrada não é livre
Foto: Diego Vara
A crítica do chefe do monopólio de comunicação do RS baseia-se no conceito de liberdade de expressão, aliado ao de liberdade de imprensa. Ele engana-se (ou melhor, tenta enganar seu leitor) ao acreditar que o que temos hoje é imprensa livre. Apesar de a pobreza ter diminuido no Brasil, nenhum novo grupo alcançou um patamar significativo no cenário das comunicações. Ela continua sendo controlada por cerca de dez famílias. E não há liberdade sem igualdade.
Se, num país de 190 milhões, dez famílias dizem o que é ou não notícia (e todas representativas do mesmo espectro social de interesses), não há liberdade de imprensa.
O ClicRBS destacou essa citação do patrão: “Como não acreditar numa democracia cuja imprensa denuncia com a mesma ênfase um escândalo como o do Mensalão, que envolveu políticos ligados ao governo, e um episódio como o do senador Demóstenes Torres, até então uma das lideranças mais fortes da oposição?”. Como acreditar em democracia, perguntaria eu, quando a revista de maior tiragem no país, dedica capa ao mensalão, ocorrido sete anos antes, no momento em que o senador Demóstenes Torres, uma liderança da oposição, está sob fortes denúncias de corrupção? Nota-se uma diferença grande entre os dois episódios, aliás. No segundo, a imprensa estava envolvida não só no crime de desinformar, como no delito em si.
A matéria do Comunique-se encerra assim: “O empresário defendeu a ética jornalística e os valores que fazem parte da profissão – como apuração e produção isenta de conteúdo”. Bom, aí só nos resta rir.

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