sábado, 16 de junho de 2012
MEIO AMBIENTE - Rio+20: o futuro que queremos é um prolongamento do presente.
Leonardo Boff
O Documento Zero da ONU para a Rio+20 é ainda refém do velho paradigma da dominação da natureza para extrair dela os maiores benefícios possíveis para os negócios e para o mercado. O ser humano deve buscar os meios de sua subsistência.
A economia verde radicaliza essa tendência; como escreveu o diplomata e ecologista boliviano Pablo Solón, “ela busca não apenas mercantilizar a madeira das florestas, mas também sua capacidade de absorção de dióxido de carbono”. Tudo pode se transformar em bônus negociáveis pelo mercado e pelos bancos.
Destarte, o texto se revela definitivamente antropocêntrico, como se tudo se destinasse ao uso exclusivo dos humanos e a Terra tivesse sido criada somente para eles e não para os outros seres vivos que também exigem sustentabilidade das condições ecológicas para a sua permanência neste planeta.
Resumidamente, “o futuro que queremos”, lema do documento da ONU, não é outra coisa que o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num contexto desses, não avançar é retroceder.
Há, outrossim, um agravante: todo o texto gira ao redor da economia. Por mais que a pintemos de marrom ou de verde, ela guarda sua lógica interna. Quanto posso ganhar no tempo mais curto, com o investimento menor possível? Não sejamos ingênuos: o negócio da economia vigente é o negócio. Ela não propõe uma nova relação para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua vitalidade e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como denuncia o filósofo da ecologia Michel Serres.
Nessa guerra, não possuímos nenhuma chance de vitória. A natureza ignora nossos intentos. Segue seu curso mesmo sem a nossa presença. A tarefa da inteligência é decifrar o que ela nos quer dizer (pelos eventos extremos), defender-nos de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor. Ela nos oferece informações, mas não nos dita comportamentos. Estes devem ser inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso estiverem em conformidade com seus ritmos e ciclos.
Como alternativa a essa economia de destruição, precisamos, se queremos ter futuro, opor-lhe o paradigma da economia de preservação. Precisamos produzir sim, mas respeitando os direitos das gerações futuras e dos demais seres da comunidade de vida.
A Rio 92 consagrou o conceito antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento sustentável, elaborado pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. Ele se transformou num dogma professado pelos documentos oficiais, pelos Estados e empresas sem nunca ser submetido a uma crítica séria. Sequestrou a sustentabilidade só para o seu campo. Os desastres que causava eram vistos como externalidades. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, capazes de destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida humana e grande parte da biosfera.
Isso não é superado pela economia verde. Ela configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que produziu o texto teórico “Iniciativa da Economia Verde”. Com isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, a injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo econômico falido e mudança do olhar sobre o planeta que possa projetar um futuro real para a humanidade e para a Terra.
A Rio+20 poderia resgatar a Estocolmo+40. Nesta primeira conferência mundial, o foco central era o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca. Essa perspectiva se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e, agora, da economia verde.
O Documento Zero da ONU para a Rio+20 é ainda refém do velho paradigma da dominação da natureza para extrair dela os maiores benefícios possíveis para os negócios e para o mercado. O ser humano deve buscar os meios de sua subsistência.
A economia verde radicaliza essa tendência; como escreveu o diplomata e ecologista boliviano Pablo Solón, “ela busca não apenas mercantilizar a madeira das florestas, mas também sua capacidade de absorção de dióxido de carbono”. Tudo pode se transformar em bônus negociáveis pelo mercado e pelos bancos.
Destarte, o texto se revela definitivamente antropocêntrico, como se tudo se destinasse ao uso exclusivo dos humanos e a Terra tivesse sido criada somente para eles e não para os outros seres vivos que também exigem sustentabilidade das condições ecológicas para a sua permanência neste planeta.
Resumidamente, “o futuro que queremos”, lema do documento da ONU, não é outra coisa que o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num contexto desses, não avançar é retroceder.
Há, outrossim, um agravante: todo o texto gira ao redor da economia. Por mais que a pintemos de marrom ou de verde, ela guarda sua lógica interna. Quanto posso ganhar no tempo mais curto, com o investimento menor possível? Não sejamos ingênuos: o negócio da economia vigente é o negócio. Ela não propõe uma nova relação para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua vitalidade e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como denuncia o filósofo da ecologia Michel Serres.
Nessa guerra, não possuímos nenhuma chance de vitória. A natureza ignora nossos intentos. Segue seu curso mesmo sem a nossa presença. A tarefa da inteligência é decifrar o que ela nos quer dizer (pelos eventos extremos), defender-nos de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor. Ela nos oferece informações, mas não nos dita comportamentos. Estes devem ser inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso estiverem em conformidade com seus ritmos e ciclos.
Como alternativa a essa economia de destruição, precisamos, se queremos ter futuro, opor-lhe o paradigma da economia de preservação. Precisamos produzir sim, mas respeitando os direitos das gerações futuras e dos demais seres da comunidade de vida.
A Rio 92 consagrou o conceito antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento sustentável, elaborado pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. Ele se transformou num dogma professado pelos documentos oficiais, pelos Estados e empresas sem nunca ser submetido a uma crítica séria. Sequestrou a sustentabilidade só para o seu campo. Os desastres que causava eram vistos como externalidades. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, capazes de destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida humana e grande parte da biosfera.
Isso não é superado pela economia verde. Ela configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que produziu o texto teórico “Iniciativa da Economia Verde”. Com isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, a injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo econômico falido e mudança do olhar sobre o planeta que possa projetar um futuro real para a humanidade e para a Terra.
A Rio+20 poderia resgatar a Estocolmo+40. Nesta primeira conferência mundial, o foco central era o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca. Essa perspectiva se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e, agora, da economia verde.
EGITO - O problema é a questão militar.
Desde o início nós destacamos aqui no blog a questão militar como central no Egito. Até porque ela esconde a influência e o controle norte-americano sobre o país durante essas últimas décadas, praticamente desde o assassinato do presidente Anuar al Sadat em 1981.E porque os militares egípcios, de várias formas diretas e indiretas, controlam 33% da economia do país.
Só há uma explicação para a segurança e a agressividade da ação militar com a qual a Junta governativa composta por generais assumiu o Poder Legislativo: o apoio dos Estados Unidos. Via Supremo Tribunal, eles dissolveram o Parlamento esta semana, dois dias antes do 2º turno da eleição presidencial.
Até porque esta Suprema Corte egípcia não passa de uma extensão do poder da ditadura Hosni Mubarak. Inclusive porque o regime, no fundo, é também uma expressão da aliança dos militares com uma burocracia corrupta e com elites que ascenderam ao poder econômico e ao status social à sombra do regime de Mubarak.
O que não assumem e tentam encobrir é que, na prática, essa dissolução do Parlamento ocorreu porque a maior parte dos parlamentares eleita no início deste ano é filiada à Irmandade Muçulmana - a força de oposição à ditadura - ou ainda que integrantes de outros partidos têm ligações com a Irmandade.
E assim, 1,5 ano após a Praça Tharir (praça central do Cairo, símbolo das manifestações de protesto no país) derrubar a cabeça do regime, o ditador Hosni Mubarak - sem conseguir derrubar o sistema - o Egito continua sem paz, longe da democracia e da liberdade, sem perspectivas no horizonte de que elas venham a curto prazo.
Só há uma explicação para a segurança e a agressividade da ação militar com a qual a Junta governativa composta por generais assumiu o Poder Legislativo: o apoio dos Estados Unidos. Via Supremo Tribunal, eles dissolveram o Parlamento esta semana, dois dias antes do 2º turno da eleição presidencial.
Até porque esta Suprema Corte egípcia não passa de uma extensão do poder da ditadura Hosni Mubarak. Inclusive porque o regime, no fundo, é também uma expressão da aliança dos militares com uma burocracia corrupta e com elites que ascenderam ao poder econômico e ao status social à sombra do regime de Mubarak.
O que não assumem e tentam encobrir é que, na prática, essa dissolução do Parlamento ocorreu porque a maior parte dos parlamentares eleita no início deste ano é filiada à Irmandade Muçulmana - a força de oposição à ditadura - ou ainda que integrantes de outros partidos têm ligações com a Irmandade.
E assim, 1,5 ano após a Praça Tharir (praça central do Cairo, símbolo das manifestações de protesto no país) derrubar a cabeça do regime, o ditador Hosni Mubarak - sem conseguir derrubar o sistema - o Egito continua sem paz, longe da democracia e da liberdade, sem perspectivas no horizonte de que elas venham a curto prazo.
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA
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