segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vamos falar de alianças

Do Tudo em Cima - 22/06/2012

Da esquerda para a direita: Gilberto Kassab (PSD-SP), José Arruda (DEM-DF),
Valdemar Costa Neto (PR-SP), Joaquim Roriz (PSC-DF), Jaqueline Roriz (PMN-DF), Paulo Preto (ex-diretor da Dersa e ex-assessor de Serra), Silas Malafaia (pastor fundamentalista), Soninha Francine (PPS-SP), Índio da Costa (DEM-RJ), Marconi Perillo (PSDB-GO), Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Esses são apenas alguns dos cébelebres aliados e apoiadores de José Serra. Ajude-nos a completar a lista, que é longa


Contraponto 8523 - "Saiba por que países do Sul e do Norte divergem sobre Paraguai "

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25/06/2012
Saiba por que países do Sul e do Norte divergem sobre Paraguai
Do Blog da Cidadania - 25/06/2012

Eduardo Guimarães
Nesse imbróglio da deposição-relâmpago do bispo Fernando Armindo Lugo de Méndez da presidência do Paraguai, o que importa menos, agora, é o desempenho que vinha tendo. Acusado por todos os partidos com representação congressual, estava isolado e faria um governo anódino até o fim, mas foi alvo de uma farsa que se tornou o cerne da questão.
As queixas sobre seu desempenho eram muitas e de variadas origens e a debilidade política de seu governo revelou sua inabilidade. Há, ainda, informações de que não vinha sendo tão progressista quanto se esperava, ainda que sejam opiniões de grupos políticos paraguaios mais à esquerda.
Sendo verdadeiros os relatos sobre a incompetência política e administrativa de Lugo, não se entende por que foi desfechado um processo como o que se viu, no qual lhe foram negadas as mínimas condições de defesa. Surgem várias questões:
1) Por que o processo precisou ser tão rápido?
2) Por que a Justiça não pôde se pronunciar?
3) Por que tudo foi feito em surdina até o último momento, surpreendendo até o povo e a comunidade internacional?
4) Por que causou tanta comoção um processo que a classe política paraguaia esperava que fosse muito mais facilmente aceito?
5) Países como Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Canadá estão reconhecendo o processo político. Por que os países latino-americanos não?
As respostas a tais perguntas são facilmente respondíveis.
1) O processo de cassação do mandato de Lugo foi rápido para não dar tempo a articulações e exigências de prazo condizente a um juízo de tal importância
2) Se houvesse um grão de legalidade nesse processo, não poderia ter sido concluído sem que a Justiça recebesse e analisasse o questionamento que o presidente deposto tentou fazer, mas, quando lhe bateu à porta, não havia quem recebesse a ação.
3) Vide resposta um.
4) Vide resposta dois.
5) Porque o que aconteceu no Paraguai não tem poder de se alastrar pelos países que aceitaram o processo suspeito, mas tem para se alastrar pelos países latino-americanos.
Ainda assim, talvez tudo pudesse ser visto como mais uma das excentricidades de uma nação que funciona como um entreposto de livre comércio de tudo que é legal e ilegal (armas, drogas etc.), que não tem qualquer importância econômica e onde golpes de Estado constituem quase uma tradição – o último ocorreu há míseros 13 anos.
Coincidentemente, os países da Unasul, que não estão deixando o episódio paraguaio cair no esquecimento, são os mesmos em que grupos políticos e empresariais vêm tentando produzir situação semelhante.
Alguns desses países, aliás, acreditam que podem se tornar a bola da vez após a ruptura institucional paraguaia – que, repito, deu-se por a Justiça ter sido apartada e pela rapidez do processo. Bolívia, Equador e Venezuela, por exemplo, nos quais, em períodos recentes, houve tentativas de desencadear o mesmo, são os candidatos mais fortes.
Na noite de sábado, no Twitter, o senador petista Delcídio Amaral (MS), considerado um dos mais moderados e acusado por alguns de ser um dos petistas mais tucanos, tuitou propugnando retaliação dura ao novo regime paraguaio.
A própria Dilma Rousseff, que tem se pautado pela sobriedade e pelo comedimento, deu declarações fortes e chamou o embaixador brasileiro para consultas.
Como podem existir visões tão distintas como a dos países ricos e a dos países do entorno paraguaio? Foi um processo “normal”, como disse, por exemplo, o chanceler alemão, ou foi um processo golpista, como disse, em outro exemplo, a presidente argentina?
Em países parlamentaristas como os do norte, a destituição de Lugo seria normal. Um gabinete de primeiro ministro pode cair em prazos tão curtos e sob acusação de mau desempenho, mas, no presidencialismo – em que o presidente é não só chefe de Estado, mas também de governo -, não.
Nos EUA, nação presidencialista que nos inspira, o apoio ao golpe tem outra razão que não a confusão entre parlamentarismo e presidencialismo. É má fé mesmo.
O que está levando países como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador ou Venezuela, entre outros países latino-americanos, a repudiar a destituição de um presidente tão polêmico quanto era Lugo e a propugnarem retaliação ao novo regime paraguaio, portanto, são as reações políticas em cada um deles.
Seja nos periódicos argentinos Clarín ou La Nacion, seja nos bolivianos El Deber ou El Mundo, seja nos chilenos El Mercúrio ou La Tercera, seja nos brasileiros Folha de São Paulo ou Globo, seja nos equatorianos Últimas Notícias ou El Comercio, seja nos venezuelanos El Universal ou El Nacional, sem falar das televisões, o tom é de comemoração e apoio ao golpe.
Em todos esses países, acusações de “corrupção” e de “incompetência” do governo central – acusações usadas contra Lugo – são a tônica do discurso da mídia e da oposição. Em quase todos eles, à exceção de Argentina, Brasil e Chile, de uma forma ou de outra já houve tentativas recentes de golpe – no Brasil, porém, houve tentativa de tentativa de golpe com o mensalão.
As reações da comunidade internacional, porém, estão assustando os golpistas paraguaios. O novo presidente, percebendo o estado de espírito dos governos vizinhos, trata de fazer gestos conciliadores como oferecer a Lugo que permaneça na residência oficial do governo até quando queira e lhe pede, até, para que ajude a explicar ao mundo o golpe que sofreu…
A televisão pública paraguaia, que estava censurando manifestações e que destituiu seu diretor porque mandava cobri-las, retrocedeu, a mando do presidente, e, no último sábado, transmitiu manifestação de milhares de pessoas contra o golpe que a mídia brasileira escondeu e que, nas poucas informações que divulgou, reduziu a duzentas pessoas.
O isolamento do Paraguai decorre da velha máxima de que “Gato escaldado tem medo de água fria”. O processo paraguaio é altamente suspeito. O conflito no campo usado como desculpa não será mais investigado por comissão do governo formada por Lugo antes de sair, o que sugere que o novo presidente, que tomou tal decisão, teme o resultado da investigação.
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Contraponto 8525 - "Mercosul suspende Paraguai de reunião e pode aprovar adesão da Venezuela"

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25/06/2012
Mercosul suspende Paraguai de reunião e pode aprovar adesão da Venezuela
Do Viomundo - publicado em 24 de junho de 2012 às 23:28
iG – Com Reuters e EFE
Mercosul suspende Paraguai da próxima cúpula do bloco
via MVM News
Em comunicado conjunto, Argentina, Brasil e Uruguai anunciaram decisão de retirar país de encontro em Mendoza após impeachment relâmpago de Fernando Lugo
O Mercosul decidiu neste domingo suspender a participação do Paraguai da próxima cúpula do bloco, que será realizada na próxima sexta-feira na Argentina e na qual serão discutidas que medidas tomar em relação ao país após o impeachment de Fernando Lugo.
Em comunicado conjunto, Argentina, Brasil e Uruguai anunciaram sua decisão de “suspender o Paraguai, de forma imediata e por este ato, do direito a participar da 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul”.
O bloco sul-americano, do qual o Paraguai é sócio fundador, também vetou a participação do Paraguai das reuniões preparatórias para a cúpula do Mercosul, que serão realizadas na cidade argentina de Mendoza.
A medida foi adotada, segundo argumenta a declaração, em consideração ao Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático no Mercosul, assinado em 24 de julho de 1998, e que determina “a plena vigência das instituições democráticas” como “condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração”.
No comunicado, Argentina, Brasil e Uruguai e os países associados Chile, Peru, Venezuela, Bolívia, Equador e Colômbia expressaram a mais “enérgica condenação à ruptura da ordem democrático ocorrida na República do Paraguai, por não ter sido respeitado o devido processo” no julgamento político de Lugo, destituído na sexta-feira passada.
A declaração afirma ainda que os chefes de Estado considerarão na próxima sexta-feira, em Mendoza, novas “medidas a serem adotadas”.
“O Brasil deve procurar tomar todas as decisões futuras em relação à situação política no Paraguai da forma mais multilateral possível, no âmbito do Mercosul e da Unasul. A suspensão está confirmada e espera-se que até dezembro, quando o Brasil sediará uma cúpula do Mercosul, o assunto já esteja equacionado”, disse a assessoria do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
Na sexta-feira o Congresso paraguaio aprovou o impeachment do então presidente do país, Fernando Lugo, e deu posse a seu vice, o liberal Federico Franco. O processo relâmpago recebeu inúmeras críticas e alguns vizinhos regionais retiraram seus embaixadores do país para consultas.
Neste domingo, Lugo pediu que a democracia retorne ao seu país e anunciou que irá apoiar todas as manifestações pacíficas para que a abalada ordem institucional seja restabelecida. O ex-chefe de Estado anunciou que irá para Mendoza, na cúpula regional, para explicar a situação no Paraguai.
Unasul
Neste domingo, uma fonte do alto escalão do governo brasileiro disse à agência Reuters que o Paraguai deve ser suspenso do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) após o impeachment de Lugo.
Segundo essa fonte, que falou sob condição de anonimato, o governo brasileiro tem mantido contato com autoridades de outros países da região e acredita-se que existe um consenso para a suspensão do Paraguai na semana que vem, para quando está marcada uma reunião de cúpula do Mercosul em Mendoza, na Argentina.
“O ponto é transformar esse novo governo (paraguaio) em um pária”, disse a fonte à Reuters.
Segundo a fonte do governo brasileiro, o embaixador do país em Assunção, chamado de volta para consultas, não deve retornar ao Paraguai. Essa autoridade disse ainda que o Brasil não pretende romper completamente suas relações com o Paraguai por conta de interesses brasileiros no país, como a usina hidrelétrica binacional de Itaipu.
A fonte disse ainda que o governo brasileiro não manterá contatos com Franco e manterá sua tradição de atuar no caso por meio de organismos multilaterais. Essa estratégia, segundo a autoridade, tem o objetivo abrir um precedente que deixe claro a gravidade das consequências de fatos como o ocorrido no Paraguai.
Especificamente, a meta é garantir que nada parecido aconteça em outros paises, como Bolívia e Peru. “Essa é uma reação institucional que mostrará aos outros as consequências negativas de uma medida agressiva como essa”, completou a fonte.
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Com suspensão do Paraguai, Mercosul pode aprovar adesão da Venezuela
do Opera Mundi, via Grupo Beatrice
Aprovação no Senado paraguaio, que depôs o presidente Fernando Lugo, era o último entrave à entrada dos venezuelanos no bloco
Com a suspensão do Paraguai na Cúpula do Mercosul, que será realizada a partir desta quarta-feira (27/06), na Argentina, os países do bloco consideram a possibilidade de aprovar a inclusão da Venezuela como membro permanente, segundo fontes diplomáticas consultadas pelo Opera Mundi.
A suspensão do novo governo paraguaio na 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul foi anunciada neste domingo (24/06) em um comunicado conjunto dos governos da Argentina, Brasil e Uruguai. A decisão foi tomada em repúdio à deposição do presidente Fernando Lugo, na última sexta-feira (22/06), que viola a cláusula democrática do bloco regional.
As intenções de inclusão da Venezuela para o fortalecimento econômico do bloco tiveram início em 2005, quando o país solicitou a adesão como sócio pleno. Na última cúpula, realizada em dezembro do ano passado, em Montevidéu, a proposta foi discutida, mas encontrou resistência do parlamento paraguaio. Segundo as regras do bloco, a medida necessita apoio dos poderes Executivo e Legislativo dos países sócios.
Atualmente, a Venezuela tem um status de Estado em processo de adesão ao Mercosul, enquanto outros países, como Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador, são membros associados.
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PITACO DO ContrapontoPIG
Aproveitar a oportunidade de permitir a entrada da Venezuela, seria uma troca excelente para o Mercosul.
Seria, além disso, uma espécie de 'contra-golpe' que este congresso paraguaio receberia em troca da sua canalhice.
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Contraponto 8526 - Vitória americana no Paraguai

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25/06/2012
El Pulpo trocou de nome, mas continua atacando
Do Viomundo - publicado em 24 de junho de 2012 às 22:04
por Luiz Carlos Azenha
Quem quer que tenha conhecimento mínimo da política externa dos Estados Unidos sabe qual é o peso, na América Latina, de “la Embajada”. Não é preciso nem identificar a qual embaixada nos referimos. O presidente do Equador, Rafael Correia, costuma repetir a piada segundo a qual só nos Estados Unidos o presidente não corre o risco de tomar um golpe: não existe embaixada norte-americana em Washington.
Estou lendo Bananas, de Peter Chapman, sobre “como a United Fruit Company desenhou o mundo”. United Fruit, ou El Pulpo, como era conhecida na região, O Polvo. Aliás, foi a empresa que inventou a fruta como commodity. Inventou também o conceito de república das bananas, que a opinião pública conhece de forma distorcida: não haveria república das bananas se uma empresa, com apoio de Washington, não fosse capaz de derrubar e ‘eleger’ governos e interferir de forma tão dramática na História das Américas. Ou seja, o tom depreciativo com o qual se aplica o termo tem que necessariamente identificar quem é que tanto fez para transformar repúblicas em caricaturas.
Sabemos muito pouco sobre o incidente que originou o pedido de impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo. O jornalista Idilio Grimaldi escreveu um artigo dizendo achar inverossímil que um grupo de elite da polícia do Paraguai tenha caído numa emboscada de camponeses. Nunca se sabe.
Eu sempre desconfiei de grupos de luta armada que surgem assim do nada, como o EPP, o Ejercito del Pueblo Paraguayo — até agora, pelo menos, não relacionado ao incidente que resultou na cassação do presidente do Paraguai. Pode haver militantes sinceros envolvidos no EPP, mas muitas vezes estes grupos podem se tornar veículos de interesses não identificados. Quando recebi um convite para visitar o EPP, no Paraguai, de um colega jornalista brasileiro, disse não ter interesse: eu não vou ajudar a promover estes caras, argumentei, não sei e não serei capaz de descobrir a quem eles servem antes da reportagem ir ao ar. Se não houver deadline, tudo bem, mas não aceito ser usado.
O EPP serve, por exemplo, mesmo que não queira, ao esforço para aprovar leis antiterroristas na região, promovidas pelos Estados Unidos e que também se encaixam em tentativas de criminalizar os movimentos sociais.
Já narrei no site antigo, que não está mais no ar, uma experiência que tive no Panamá, durante a crise que antecedeu a invasão dos Estados Unidos. Fomos chamados, jornalistas estrangeiros, para uma entrevista coletiva na base militar dos Estados Unidos no canal do Panamá — que já não existe. Um oficial norte-americano assumiu o podium e deu várias informações, uma delas dizendo que Fidel Castro tinha enviado alguns milhares de fuzis para o ditador panamenho Manuel Noriega, que estava sob pressão de Washington para renunciar.
O militar não apresentou nenhuma prova. Nem foto, nem grampo com áudio. Nada. Como as informações eram em off, ou seja, a fonte não poderia ser identificada, nem havia imagem — e eu trabalhava em TV –, simplesmente descontei a declaração. Porém, levei um susto no dia seguinte quando vi a “informação” na capa do Washington Post, atribuída a uma fonte militar de alto escalão.
Depois da invasão dos Estados Unidos e consequente derrubada de Manuel Noriega, onde é que estavam os fuzis do Fidel Castro? Não houve qualquer reação militar à invasão dos Estados Unidos e ninguém viu ou procurou os fuzis do Fidel. Os milhares de fuzis do Fidel sumiram na névoa. Tinham cumprido seu objetivo.
Há dezenas de incidentes similares registrados na História, como o que aconteceu no Golfo de Tonkin e deu ao presidente Lyndon Johnson autoridade para interferir num conflito que até então envolvia formalmente o Vietnã do Norte e a França (a participação dos Estados Unidos era clandestina). O incidente, do dia 4 de agosto de 1964, simplesmente não aconteceu. Um ataque de barcos patrulha norte-vietnamitas contra dois navios de guerra norte-americanos, o USS Madox e o USS Turner Joy.
Da revista Time: ”Através da escuridão, do Oeste e do Sul… intrusos audaciosamente, em velocidade… pelo menos seis deles… abriram fogo contra os destróiers com armas automáticas, desta vez a apenas 1.800 metros”.
Vários historiadores sugerem que os destróiers foram enviados justamente para provocar incidentes que justificassem a intervenção dos Estados Unidos. Se de fato houve um confronto no dia 2 de agosto, o do dia 4 de agosto simplesmente não aconteceu, mas foi amplificado pela mídia e usado como justificativa pela Casa Branca.
Johnson, que era candidato à reeleição, foi à TV, autorizou ataques aéreos contra o Vietnã do Norte e três dias depois recebeu do Congresso autorização para “tomar todas as medidas necessárias, inclusive o uso das forças armadas, para dar assistência a qualquer integrante do Tratado de Defesa Coletiva do Sudeste da Ásia que pedir assistência em defesa de sua liberdade”. Uma provocação apresentada como ação em defesa da liberdade.
Em resumo, os Estados Unidos têm uma longa história de:
1. Usar a diplomacia e a força militar para defender o interesse de suas empresas;
2. Usar a mão do gato para atingir seus objetivos, se preciso com falsificações.
No caso paraguaio, é altamente improvável que “La Embajada” não tenha sabido com antecedência e dado aprovação tácita ao impeachment fast food de Fernando Lugo.
Se o resultado final não interessasse aos Estados Unidos, Washington poderia muito bem ter consultado Brasília sobre a crise antes de se posicionar oficialmente. Afinal, o Paraguai é vizinho do Brasil e integrante do embrião de uma união econômica com o Brasil. Pensem na enormidade disso: o Paraguai é sócio do Brasil numa das maiores hidrelétricas do mundo, essencial para a economia dos dois países!
Mas o governo Obama reconheceu o novo líder paraguaio com uma rapidez espantosa, talvez só equivalente ao reconhecimento do governo de Pedro Carmona, na Venezuela, depois do golpe que afastou Hugo Chávez, em 2002.
Se não restava apoio político a Fernando Lugo, se não poderia concorrer à reeleição e estava na reta final do mandato, qual seria o sentido de afastá-lo?
Quem conhece o Paraguai sabe que a única chance que Lugo teria de influenciar as próximas eleições seria através do controle, ainda que parcial, da enfraquecida máquina do Estado. O poder econômico, legal e ilegal, está contra ele, para não falar de influentes poderes internacionais, como o Vaticano. A mídia paraguaia, obviamente, está majoritariamente com o poder econômico.
Se nossos jornais e emissoras de TV reproduzem acriticamente propaganda dos Estados Unidos, quando não simplesmente assumem para si o papel de defender Washington, mesmo contra o governo brasileiro, por que no Paraguai seria diferente?
A deposição veloz de Lugo, em algumas horas, tinha o objetivo de criar uma situação de fato, desarticulando as forças que o elegeram e reduzindo a influência delas nas eleições de 2013.
Internamente, garantia de que a influência da esquerda será praticamente eliminada.
Externamente, garantia de que a influência dos Estados Unidos será amplificada.
Se o Paraguai foi capaz de bloquear, graças ao Senado, a entrada da Venezuela no Mercosul, agora mais do que nunca poderá ser uma pedra no sapato da integração regional, que não interessa aos Estados Unidos.
Por ter vivido quase 20 anos lá, sei exatamente como funciona a política externa norte-americana. Ela é de Estado, nunca de governo. É por isso que Fernando Gabeira, que sequestrou o embaixador norte-americano no Brasil, jamais ganhará visto de entrada nos Estados Unidos, a não se que se torne presidente do Brasil e tenha algo muito bom para oferecer — o pré-sal, por exemplo.
É por isso que jamais os Estados Unidos vão aceitar a expropriação de empresas norte-americanas feita por Fidel Castro. Jamais vão engolir Hugo Chávez. Jamais vão aceitar um papel de liderança do Brasil que prejudique seus interesses econômicos imediatos na região, especialmente o acesso a recursos naturais como o gás e o petróleo.
Pelo contrário, Washington vai trabalhar ativamente, de forma constante e persistente, para dividir e conquistar, estratégia aplicada historicamente (no Vietnã, por exemplo, até hoje os Hmong, que vivem nas montanhas fronteiriças, pagam caro por terem prestado serviço aos invasores durante a guerra).
Não se trata de uma questão ideológica. É dividir e conquistar para pagar menos pelo cobre do Chile, pelo petróleo da Venezuela, pelo gás da Bolívia e para proteger os investimentos, as empresas e os interesses das empresas norte-americanas na região. Simples assim.
Ou vocês acham que as empresas norte-americanas que ajudaram a financiar o golpe de 64, no Brasil, estavam interessadas em nossas praias?
Parte da estratégia de Hillary ou de quem quer que venha depois dela consiste na delicada exploração do fato de que o Brasil é visto pela opinião pública de países vizinhos, pelo menos por parte dela, como dono de apetite imperialista. Faz sentido para o Paraguai, por exemplo, se equilibrar entre o Brasil e os Estados Unidos, cobrando concessões econômicas de ambos ao mesmo tempo.
Do ponto-de-vista de Washington, o Paraguai é um valioso peão para colocar pedras no caminho do Mercosul, da Unasul e de todos os organismos multilaterais regionais que excluam os Estados Unidos e, portanto, a influência dos Estados Unidos.
Estamos aqui no campo da realpolitik, não das firulas diplomáticas ou jurídicas.
O que aconteceu em Assunção foi uma estupenda vitória do Departamento de Estado e uma fragorosa derrota, ao menos até agora, do Itamaraty.
Uma derrota do projeto brasileiro de integração que, obviamente, é modelado para atender prioritariamente aos interesses políticos, econômicos, diplomáticos e militares do Brasil, ainda que muita gente por aqui torça — e trabalhe — por Washington.
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O GOLPE PARAGUAIO

23/06/2012 - Laerte Braga
original publicado no blog Juntos Somos Fortes

O golpe sumário dado pelo Parlamento do Paraguai contra o presidente Fernando Lugo tem a marca registrada da classe dominante naquele país.

Latifundiários associados a multinacionais, uma força armada corrompida e cooptada por interesses de grandes corporações, bancos e os donos da terra.

O Paraguai jamais se recuperou da guerra contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai (1864/1870). O conflito foi estimulado pela Inglaterra, então maior potência do mundo, em defesa de seus interesses econômicos. O Paraguai não dependia de países da Europa, tinha uma indústria têxtil competitiva e era um dos grandes exportadores de mate, concorrendo com o império britânico.

O capital para a guerra foi dos ingleses e em meio ao conflito é que, praticamente, se construiu as forças armadas brasileiras, inteiramente despreparadas para um confronto de tal envergadura. Nos primeiros anos da guerra os soldados brasileiros passavam fome e os armamentos eram mínimos, insuficientes para o genocídio que viria mais à frente. Foi a conseqüência inicial da avidez do governo imperial de aceitar as libras inglesas. Os países que formaram a chamada Tríplice Aliança, numa selvageria sem tamanho, mataram 70% da população paraguaia e até hoje a maioria acentuada entre os que nascem naquele país é de homens.

De lá para cá o Paraguai tem sido governado por ditadores, numa sucessão de golpes de estados e o breve período “democrático” que se seguiu à deposição do último general, Alfredo Stroessner (morreu exilado no Brasil, era capacho da ditadura militar brasileira), encerra-se agora com a deposição branca de Fernando Lugo.

Um ex-bispo católico, conhecido como o “bispo dos pobres”. O mandato de Lugo terminaria no próximo ano. O vice-presidente é do Partido Liberal, aquele jogo político de amigos e inimigos cordiais, onde os donos se revezam no poder.

O pretexto para a deposição de Lugo foi um massacre de trabalhadores rurais sem terra, numa região próxima à fronteira com o Brasil. Morreram manifestantes e integrantes das forças de repressão. De lá para cá Lugo enfrenta um inferno.Latifundiários brasileiros, a classe dominante paraguaia – subordinada a interesses do Brasil e de corporações internacionais – se uniram contra Lugo e o apoio de empresas como a MONSANTO, a DOW CHEMICAL, o silêncio formal e proposital dos EUA, todos esses ingredientes foram misturados e transformados em golpe de estado.

Tal e qual aconteceu em Honduras contra Manoel Zelaya. A nova “fórmula” para golpes de estado na América Latina. A farsa democrática, o rito constitucional transformado em instrumento golpista na falta de pudor da classe dominante. No caso do Paraguai, como no de Honduras, miquinhos amestrados do capitalismo internacional.

A elite paraguaia jamais permitiu ao longo desses anos todos, desde 1870, que o país se colocasse de pé novamente. Tem sido um apêndice de interesses políticos e econômicos de corporações estrangeiras e do sub-imperialismo brasileiro. Carregam as malas dos donos enquanto submetem os trabalhadores a um regime desumano e cruel que não mudou e nem vai mudar enquanto não houver resistência efetiva e nas ruas contra esse tipo de procedimento, contra essa subserviência corrupta e golpista. E cumplicidade de governos vizinhos. Mesmo que por omissão, ou fingir que faz alguma coisa.

E necessária a consciência dos governos de países como o Brasil que situações de golpe são inaceitáveis. Que a integração latino americana é fundamental e se faz com democracia e participação popular. Não com alianças com Paulo Maluf.

Fernando Lugo cometeu erros. O maior deles o de acreditar que era possível governar o país com grupos da direita. As políticas de conciliação onde a elite é implacável e medieval, as forças armadas são agentes – em sua maioria esmagadora – de interesses estranhos aos nacionais e as forças populares sistematicamente encurraladas pela violência e barbárie.

Ou se percebe que o golpe contra Lugo é um golpe contra toda a América Latina, ou breve situações semelhantes em outros países. Por trás de tudo isso, em maior ou menor escala, mas de forma direta os EUA e o que significam no mundo de hoje.

No que o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad chama de colonizadores. No ano 2000 o economista César Benjamin, numa palestra na cidade mineira de Juiz de Fora espantou os ouvintes ao dizer que “o século XIX foi o dos grandes impérios colonizadores, o século XX o do fim do colonialismo, o século XXI vai assistir a um novo ciclo de colonização de países periféricos às grandes potências”.

A previsão está se confirmando.
O secretário geral da UNASUL, Ali Rodriguez disse em entrevista a vários jornalistas que “o Paraguai pode estar em meio a golpe de Estado devido à rapidez do julgamento político do presidente do país, Fernando Lugo” e mostrou-se preocupado com um possível “processo de violência. Tudo indica que uma decisão já foi tomada e que pela rapidez com a qual os eventos estão acontecendo, poderíamos estar perante um golpe de Estado”.

Basta que países como o Brasil e a Argentina, por exemplo, asfixiem econômica e politicamente o novo governo para que ele não se sustente. Depende da vontade política de um e outro de manter a democracia no Paraguai, mesmo frágil, de pé. A classe dominante paraguaia nunca deu muita importância a isso, pois sempre consegue espaço para se acomodar e continuar a transformação do país em uma espécie de vagão a reboque principalmente do Brasil. Desde o fim da guerra, em 1870 tem sido assim.

Fernando Lugo foi acusado, entre as farsas várias, de humilhar as forças armadas (existem, ou são esbirros do capitalismo?) e colocar-se ao lado dos trabalhadores sem terra. É o velho e boçal latifúndio que no Paraguai é a força econômica mais poderosa. Os protestos populares acontecem próximo ao Parlamento, mas já com forças policiais prontas para massacrar e impedir qualquer reação. É preciso ir às ruas em toda a América Latina e é fundamental asfixiar essa elite que cheira a esgoto.

Se o governo brasileiro quiser não tem golpe que sobreviva.

O problema é querer.

A preocupação hoje, no entanto, é de “consenso possível” (um fracasso na RIO+20) e as eleições de outubro.

A mídia de mercado – fétida também – no Brasil já desestimula qualquer atitude mais forte do governo. Afirma que Lugo declarou que aceitará o “julgamento político”. É mais uma das muitas e constantes mentiras padrão GLOBAL.

O golpe no Paraguai fere o arremedo de democracia que sub existe no Brasil e em outros países com o consentimento dos “poderes moderadores”.

As elites políticas e econômicas são as mesmas, arcaicas, podres e totalitárias. Quando querem colocam as garras de fora.

Foi o que fizeram com Lugo. O que querem fazer com Chávez. Com Evo Morales e outros tantos.

E no fim de tudo atribuir a culpa ao Irã.


Fonte:

AHMADINEJAD: – “ATACAM E INVADEM OUTROS TERRITÓRIOS PARA ESCRAVIZAR OS POVOS”

24/06/2012 - Laerte Braga (*)

Os norte-americanos e sionistas têm bombas de todas as espécies e as usam contra as pessoas”.

A afirmação é do presidente do Irã Mahamoud Ahmadinejad em entrevista que concedeu num hotel do Rio, um dia depois de discursar na RIO+20 defendendo uma nova ordem mundial “baseada na paz e no respeito entre os povos”.

Sem citar uma única vez o nome da presidente Dilma Roussef, mas classificando de “definitivo” o documento firmado entre os governos do Brasil, da Turquia e do seu país sobre a questão nuclear, Ahmadinejad lembrou Lula, à época desse acordo o presidente da República.

Lúcido e seguro em sua análise o presidente iraniano não teve dúvidas em falar da guerra midiática, uma das frentes do complexo terrorista ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A. “Mostram nosso povo como pobre e atrasado. Somos a décima sétima economia do mundo, breve seremos a décima quinta e temos posição de ponta nas questões que envolvem biotecnologia”.

Distorcem para criar uma realidade que não existe, mas agrade aos seus interesses.

Querem as nossas riquezas naturais, explorar nossos povos”.

Mahamoud Ahmadinejad fez alusão ao regime anterior à revolução islâmica, que definiu como de submisso aos interesses dos EUA. “Tínhamos uma população de 35 milhões de iranianos e 90% vivia na pobreza. Hoje somos bem mais e a realidade é diferente daquela”.

Enfatizou que quatro milhões de iranianos são judeus e muitos “foram tentar a vida em Israel após a revolução, mas voltaram, pois não conseguiram viver naquele país”.

Um estado islâmico não significa necessariamente restrição de liberdade religiosa. A Noruega, por exemplo, não é um estado laico e isso está escrito em sua constituição.

O presidente do Irã reuniu-se com intelectuais brasileiros e representantes dos movimentos sociais destacando a história de luta pela democracia, da qual todos foram partes.

Denunciou mais uma vez que a ONU faz o jogo dos EUA, através do controle do Conselho de Segurança. Com isso, países que dispõem de arsenais nucleares não são punidos com sanções, caso de Israel, com mais de 300 artefatos, enquanto o Irã que usa energia atômica para fins pacíficos sofre sanções severas e constantes ameaças.

Temos sete mil anos de história e não nos submetemos nunca. Querem nos escravizar, voltar à ordem antiga, do regime antigo e assim explorar nossas riquezas. Por isso nos satanizam. Transformar o povo em escravo”.
 
Centro de Teerã à noite
Os que querem o monopólio da energia nuclear são os que têm bombas e já usaram em tempos passados, na Segunda Guerra, contra seres humanos. Energia nuclear para todos, bombas para ninguém. São os mesmos desse passado”.

Seis milhões de barris de petróleo-dia os Estados Unidos tiravam do Irã no regime antigo e nosso povo estava na miséria”, disse Ahmadinejad. “É o que querem fazer de novo”.

O presidente lembrou a guerra Iraque e Irã. “Armaram Saddam contra nós, inclusive com armas químicas e biológicas, numa guerra que custou milhares de vidas e depois destruíram o Iraque para ficar com o petróleo”.


Base americana em Guantánamo

“Não têm respeito pelos seres humanos”.

Citou o fato dos EUA apoiarem ditaduras no Oriente Médio como forma de assegurar o controle da região, de ignorar o arsenal nuclear de Israel e permitir a opressão contra o povo e o território palestinos.

Sobre a questão síria o presidente declarou que “tem que ser resolvida entre os sírios, pelo povo sírio e não com intervenção de outros países”.

Não existem pessoas, seres humanos para os norte-americanos e sionistas, só interesses. Querem dominar para explorar

Ahmadinejad deixou claro que só uma nova ordem mundial poderá assegurar a todos os povos “paz e respeito” e isso passa por contrariar os negócios das grandes potenciais mundiais, de Israel e dos Estados Unidos.

Citou a fome na África, as guerras do Afeganistão e travadas mundo afora pelos “colonizadores”, inclusive na América Latina, onde lembrou a exploração das riquezas pelos países que colonizaram a região e agora, pelos interesses norte-americanos diante das dificuldades com vários governos contrários a essa exploração.

É uma luta de todos os povos oprimidos a nova ordem”.

A entrevista do presidente Ahamadinejad, ao contrário das normalmente concedidas por chefes de governo e estados, não registrou nenhuma paranóia típica de agentes norte-americanos e israelenses. Foi descontraída, a segurança limitou-se aos procedimentos normais e nenhum deles constrangedores.

Nem o hotel onde estava hospedado e nem as ruas nas imediações foram fechadas, nada de franco atiradores.

E pela primeira vez jornalistas das mídias alternativa e virtual lado a lado com os da mídia de mercado, fato que, numa certa medida, inibe a costumeira mentira de GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, etc.

Foram poucos os comentários sobre a RIO + 20, levando em conta que seu discurso abrangeu bem mais que as questões que ali estavam sendo discutidas. Foi um documento de amplo teor político com diagnóstico da conjuntura atual e a posição de seu país, sob constante ameaça de ataques tanto por parte dos EUA, como de Israel. 

Fernando Lugo, ex-presidente Paraguaio, deposto por um golpe "constitucional".
Coincidência ou não, no dia seguinte, na sexta-feira, as avaliações de Ahmadinejad sobre a intervenção norte-americana em função de interesses políticos, econômicos e militares, se materializou no Paraguai, no golpe que derrubou o presidente Fernando Lugo. Um dos objetivos dos norte-americanos é construir ali uma base militar que permita monitorar o Brasil e a posse do quinto maior aqüífero do mundo, o Guarani. A água hoje, segundo o presidente da Coca Cola, “vale mais que petróleo”. Afirmação que dá, mais uma vez, razão ao pensamento de Ahmadinejad.

A afirmação do presidente da Coca Cola foi feita na RIO + 20, num fórum restrito de empresários, quando defendeu a privatização plena e absoluta da água. Ou seja, o controle pelas grandes corporações e em função dos interesses que representam.

Ao contrário do “monstro” que a mídia de mercado (GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, etc) vende, o presidente do Irã se mostrou lúcido, sereno e correto em suas avaliações e análises.

Não é um fato que possamos ignorar levando em conta o que ocorre em todo o mundo hoje.

A percepção que a luta transcende ao chamado mundo institucional, controlado em sua maioria – no Brasil inclusive – por grupos ligados a interesses do imperialismo norte-americano, do capitalismo internacional.

A luta é nas ruas como aconteceu na Cúpula dos Povos, evento paralelo à RIO + 20.

(*) jornalista

A hipocrisia diplomática que une Washington e Tel Aviv

Hipocrisia diplomática do Ocidente: milhares de palestinos já foram mortos e outras milhares de casas foram demolidas pelas forças israelenses, mas Israel, protegido pelos EUA, jamais sofreu sanções da ONU
O Ocidente, ou melhor os EUA e seus fiéis caninos aliados, pressiona Irã por causa de seu projeto
de beneficiamento nuclear.
Teerã afirma que seu uso é para fins de geração de energia.
EUA e Israel duvidam.
O Conselho de Segurança da ONU, cartório dos EUA nas nações unidas, deve endurecer e aprovar novas sanções contra o Irã, tensionando ainda mais o cenário para favorecer o estopim de uma ação militar.

O Ocidente também tem pressionado a Síria, devido aos recentes conflitos, mas esquecido dos ataques cruéis que Israel, há décadas, promove contra a Palestina.
Esquecem das colônias judaicas em território ocupado e a restrição de direitos do povo palestino.
Os EUA se calam sobre este massacre, lento e constante.

O Conselho de Segurança não aprova qualquer medida drástica contra o governo de Tel Aviv.

Washington se coloca em um pedestal de defensores da liberdade e da democracia do planeta, construído por maciça propaganda de Estado, mas ignora fatos que não estejam em rota de colisão com seus interesses, como os golpes de estado no Paraguai e em Honduras.

Na entrevista que se segue a este comentário, Hans Blix, diplomata sueco e ex-diretor da agência atômica das Nações Unidas, afirma: "Ninguém poderia dizer que o Irã tem realizado um ataque armado contra uma ou outra nação. Nem mesmo Israel ou os EUA(...) É como alguém que fuma um charuto reclamar de quem fuma um cigarro [ sobre a hipocrisia das potências nucleares]".


Hans Blix: “Ataque contra o Irã pode desencadear uma guerra”, diz ex-chefe da agência nuclear da ONU


As seis potências mundiais (EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha) retomaram em abril as negociações com o Irã para fiscalizar e controlar o programa nuclear do país. No entanto, após novo encontro nesta semana, as seis nações não conseguiram convencer o país persa a abrir suas portas para os observadores internacionais, aumentando ainda mais a instabilidade na região, em meio a uma guerra de ameaças entre iranianos e israelenses.


Ainda que as negociações e as sanções econômicas sejam as estratégias mais usadas pela comunidade internacional contra Teerã, autoridades de EUA e Israel já citaram diversas vezes que um ataque preventivo contra o Irã continua sendo uma alternativa sobre a mesa.


As ameaças vindas de Washington e Jerusalém seguem o mesmo tom do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que já considerou diversas vezes a possibilidade de varrer o Estado judaico do mapa.


Em meio a essa guerra silenciosa — marcada por atentatos contra diplomatas israelenses, de um lado, e assassinatos de cientistas iranianos, de outro — um ataque contra Teerã provavelmente envolveria grande parte dos países da região.


— Um ataque contra o Irã seria um desastre, ilegal, e poderia desencadear uma guerra no Oriente Médio.


A opinião é do diplomata sueco Hans Blix, que há mais de 30 anos luta contra a proliferação de armas nucleares no mundo. Ex-diretor da agência atômica das Nações Unidas, Blix foi o chefe dos inspetores da ONU no Iraque, em 2002 e 2002, antes da invasão norte-americana ao país.


— Se Israel bombardeasse o Irã, seria terrível. Principalmente porque seria um retrocesso e uma violação ao estatuto das Nações Unidas, que permitiria ataques se fosse um caso de autodefesa.


Em entrevista ao R7, em Estocolmo, Blix adverte que “a única maneira de (EUA ou Israel) agirem legalmente seria por meio de uma permissão do Conselho de Segurança”.


No entanto, diz ele, não há nada que justifique uma ação como essa.


— Ninguém poderia dizer que o Irã tem realizado um ataque armado contra uma ou outra nação. Nem mesmo Israel ou os EUA. (…) E não há como o Conselho de Segurança autorizar um ataque contra o Irã. Mesmo que o caso vá para a Assembleia Geral em busca de autorização, irá falhar.


Senhores das armas
Dentre os seis países que participam das negociações com o Irã, cinco deles são potências que já possuem arsenal de bombas atômicas. Não por acaso, são esses os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU como membros permanentes: EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha e França. A Alemanha é a única nação não nuclearizada entre as seis.


Ao R7, Blix afirma que são esses países que devem liderar o desarmamento nuclear em todo o mundo, em especial os EUA e a Rússia, as maiores potências, antes de cobrar uma postura do Irã.


— É como alguém que fuma um charuto reclamar de quem fuma um cigarro.


Esses cinco países são signatários do TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares). Assinado em 1968, o acordo prevê o controle dos programas nucleares para garantir uso pacífico da energia atômica e o desarmamento dos países que já desenvolveram esse tipo de arsenal militar.


Quando o documento foi assinado, esses cinco países já tinham desenvolvido armas nucleares, mas até hoje ainda não cumpriram sua parte no TNP.


Como signatário do TNP, o Irã também sofre acusações de romper o tratado desde que um relatório da agência atômica da ONU apontou indícios de que o país estaria fabricando uma bomba atômica. O que as seis potências pedem é que Teerã interrompa o enriquecimento de urânio para seus reatores, já que isso poderia levar ao desenvolvimento de armamento nuclear.


Provocações
O que torna as conversas com o Irã mais quentes, explica Blix, é a forte presença norte-americana na região.


— Os EUA têm enviado porta-aviões para o Golfo, e o tom de Israel também tem sido muito contundentes.


Já com a Coreia do Norte, apesar dos recentes testes nucleares e exercícios militares, o tratamento é diferente.


— A Coreia do Norte tem provocado muito, realizando ação militar. Ainda assim, o outro lado não tem respondido com meios militares. Isso é inteligente porque, se existe na Coreia do Norte o medo de que os EUA vão invadir ou atacá-los, é bom que os americanos não façam ameaças para fortalecer esse medo.


Segundo o especialista em armamento nuclear, a situação na região ainda é “muito quente, mesmo que tenham ocorrido alguns avanços”.


Mas apesar da proximidade entre as tropas dos EUA e o Irã, Blix parece otimista quanto ao desfecho de ambos os casos.


— O que me dá esperança nos dois casos, tanto na Coreia do Norte como no Irã, é que eu não vejo nenhum dos dois exatamente ameaçados por alguém, na questão da segurança.

R7

Assunción nas garras do Condor

Lembro perfeitamente daquele dia em que Fátima Bernardes olhou soturnamente para a câmara e disse, na sua melhor voz de velório: “Hoje faz quatro meses que começou o escândalo do mensalão!” Penso que em seguida ela deve ter tido um orgasmo, depois daqueles quatro meses conseguindo levar o povo de cabresto, quase todo o país de olhos, narizes e emoções concentrados em Brasília e no Jornal Nacional, sem a menor chance de conseguir olhar para nada que se passasse um pouco além das nossas fronteiras.


Este é um dos grandes males de nosostros, brasileños: para a esmagadora maioria da nossa população, o mundo começa e acaba em Brasília, e o que acontecer além de Brasília não existe, o que quer dizer que coisas assim também não existam em outros países – vi um livro didático do Canadá que dava vontade de chorar: as crianças das escolas canadenses descobrem que há o Canadá – ao redor existem animais selvagens e alguns poucos homens ”selvagens” – portanto, para elas, nosostros sequer existimos.


Portanto, lá no começo do milênio ficamos quatro meses tão fascinados pelo escândalo do mensalão que sequer nos demos conta do que ele queria esconder: no nosso vizinho tão próximo, encostadinho, o Paraguai, naqueles quatro meses foram aprovadas leis que permitiam a instalação de uma base estadunidense naquele país, que concordavam que os soldados estadunidenses podiam roubar, matar, estuprar, torturar, em território paraguaio, sem sofrer sanções – e naqueles quatro meses a tal base foi devidamente instalada em Mariscal Estigarribia, ao norte do Paraguai, pertinho pertinho do Brasil, e tem lá um aeroporto IMENSO (4.000 m de pista – 3,85 m de espessura, em concreto), capaz de receber todo o tipo de aeronave, e eu fui lá vi tudo isso com estes olhos que a terra há de comer, e meu amigo que estava junto até tirou fotos de tudo! Portanto, a qualquer momento qualquer aeronave pode subir, lá, e encher de bombas lugares como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Porto Alegre, sem contar que fica facilzinho facilzinho bombardear, também, lugares como La Paz, Caracas ou Buenos Aires. E nós, aqui, bobos, a gemer de raiva orquestrados pela voz melíflua e fúnebre de Fátima Bernandes, sem dar a mínima para o que acontecia do lado de lá da fronteira. Alguém importante deve ter dado os parabéns à Fátima Bernardes, elogiado sua atuação ao fazer um país inteiro ficar surdo e mudo para o mundo por conta do fascínio dela, enquanto se armava a grande arapuca para a nossa área!


(Em tempo: acabo de consultar São Google, e lá tem de tudo sobre a tal base e o aeroporto – embora também tenha gente lá dizendo que é tudo mentira. Mas que vi, vi, e, inclusive, junto com outros passageiros de um ônibus, fui bastante humilhada pelos tais soldados estadunidenses numa estrada ao norte do Paraguai, ali por perto.)


Então, agora, andava me coçando: o que é que estava acontecendo, DE VERDADE, por detrás do caso Cachoeira, que há meses mantém, de novo, os brasileiros de cabresto, a olhar para Brasília? Algo havia que ter, e coisa séria – cheguei a comentar tal coisa com algumas pessoas. Procurava ver, mas não clareava – mas para o público do Jornal Nacional estar tão fascinado pelo Cachoeira que acho que já nem se importa mais com futebol, coisa grossa estava à vista, mas eu ainda não conseguia enxergar. Ontem, então, a coisa ficou clara, claríssima: num sórdido golpe de estado que eu assisti passo a passo via Telesur (facilzinho de pegar via Internet: WWW.telesurtv.net – clicar senal en vivo), o presidente Lugo, do Paraguai, foi deposto pelo Congresso daquele país, e um títere foi colocado no seu lugar. Lugo acatou, saiu – não quis ver sangue inocente derramado nas praças de Assunción, aquela cidade tão linda e tão querida, que é um bálsamo para o meu coração e um tesouro na minha vida , impedindo, assim, o massacre de milhares de pessoas que já lá estavam para defender a legalidade da democracia e que já estavam levando bala de borracha e gás lacrimogêneo.


O Condor volta a voar nas Américas. Faz três anos devorou Honduras; agora, foi a vez do Paraguai – amanhã ou depois será a nossa vez. Se você ainda não sabe o que é a Operação Condor, sugiro que se informe, pois muito sangue e muita lágrima já correu aqui na nossa Terra de Santa Cruz e em outros lugares por causa dela, e parece que tudo se repete. Com São Google, hoje, não há como se manter ignorante de coisas assim, das quais depende o nosso futuro. E quando o Jornal Nacional começar a falar demais no mesmo assunto, ligue as antenas: alguma maldade MUUUUITO maior está para acontecer.


Aqui, choro, como chorei tanto ontem, pelo nosso irmão Paraguai que está tão dentro do meu coração. Assunción, a linda e a doce, onde estão as flores das árvores pejadas de História das tuas praças? Ainda haverá primavera para ti, minha querida Assunción, ou só te restará ser o ninho podre daquele Condor de voos baixos e rasantes, ao contrário dos livres voos dos condores das altas montanhas?


Ah! Assunción, minha querida, fico aqui torcendo pela tua primavera. Ao se despedir, ontem, Lugo disse que o povo era forte, forte, forte... Quem sabe possa voltar a primavera? Por enquanto, é tempo de chorar, e choro.

Urda Alice Klueger é escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR.Direto da Redação.