quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dilma dá as cartas

Dilma dá as cartas  
Presidente exorta o G-20 a apoiar esforço de países europeus em direção ao crescimento e releva a austeridade defendida por Merkel


 (Kleber Sales/CB/D.A.Press)
Los Cabos, México — A presidente Dilma Rousseff pautou a reunião do G-20, o bloco dos 20 países mais ricos do mundo, ao defender que, antes de insistir na austeridade, como tem feito a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, os países da Zona do Euro deveriam tomar decisões rápidas para enfrentar suas crises financeiras — sobretudo a dos títulos de dívidas soberanas — e retomar o crescimento econômico por pressões “inexoráveis” do mercado, de setores políticos e de sua própria sociedade. Embora o encontro na cidade mexicana de Los Cabos tenha se encerrado ontem sem ser conclusivo sobre o tema principal da cúpula, Dilma reforçou a intenção de líderes como o presidente socialista francês, François Hollande, e os primeiros-ministros da Itália, Mario Monti, e da Espanha, Mariano Rajoy, além do próprio presidente norte-americano, Barack Obama, de que é preciso retomar rapidamente o crescimento global.

Nelson Rodrigues
Dilma chegou a recorrer ao personagem Sobrenatural de Almeida, do escritor e jornalista Nelson Rodrigues (neste que é o ano do seu centenário) para descrever sua expectativa de que os europeus deem um olé na crise a exemplo dos jogadores do Fluminense. “Existe um personagem, e ele é internacional, que se chama Inexorável da Silveira. As coisas não são do jeito que nós escolhemos. Se (os europeus) vão esperar ou não tomar as medidas, é uma combinação de decisões políticas com reações de mercado e da pressão popular”, afirmou. Em tom firme, Dilma disse que é preciso chamar as situações, em especial as delicadas, pelo seu nome real. E esse nome, enfatizou, é a inexistência de um Estado multinacional como sustentáculo de uma moeda regional, o euro. Na sua avaliação, essa situação impede que o Banco Central Europeu (BCE) empreste dinheiro aos países da região.

A presidente demonstrou total sintonia com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e os EUA ao sugerir a necessidade de a Europa aprofundar sua integração, por meio da construção da unificação fiscal — portanto, também das dívidas soberanas nacionais — e bancária. Compreensiva, a presidente afirmou, porém, que o papel do G-20 não é o de “pontificar” as ações para a Zona do Euro, mas apoiar compromissos, em especial os de crescimento.

Questionada por jornalistas se havia entrado em uma fase “paz e amor”, Dilma reagiu. “Adianta alguma coisa não entender? Sabe o que significa entender? Não é fácil resolver a crise de uma moeda que não tem Estado multinacional por trás. Eu estou pagando o preço de tudo isso e protesto veementemente. Não é que eu seja paz e amor, mas eu também não acho que a minha atitude pode ser a de fazer receitas fáceis para os outros cumprirem.”

Oposição
Dilma insistiu na necessidade urgente de reduzir as exigências de ajuste nas contas públicas aos países europeus mais endividados para permitir crescimento econômico em curto prazo na região. Reconheceu que as taxas mais rasas de expansão da atividade no Brasil se devem, em parte, à crise na Europa e à fraca recuperação dos Estados Unidos. “Não somos uma ilha. Temos capacidade de resistir. Mas outros países em desenvolvimento não a têm.”

 A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, com a qual Dilma se encontrou pela manhã, tem sido intransigente na defesa da austeridade, ainda que isolada na própria Zona do Euro após a derrota do francês Nicolas Sarkozy nas urnas e a ausência do apoio de Christine Lagarde, do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ligada a Sarkozy, fazia eco ao pensamento da dama alemã, mas, agora, está mais aberta ao diálogo.

Dilma insistiu que, sem uma aposta firme no crescimento, a crise tende a se agravar. Ela ressaltou ter conhecimento da importância do bloco europeu em consolidar as contas públicas, mas ressaltou que isso precisa ser feito sem impedir a expansão da economia e desafiou os europeus a fazer os gols imaginários do Fluminense de Nelson Rodrigues para o mundo voltar a ter um placar positivo.

» Rodada Doha
     interrompida


A presidente Dilma Rousseff expressou ontem a seus sócios do G-20 a vontade de relançar a Rodada Doha de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2014, bloqueada pela questão dos subsídios agrícolas dos países ricos. “Não aceitamos prorrogar por prorrogar”, disse Dilma, em Los Cabos, no México, antes de regressar ao Rio de Janeiro, onde participa da Rio+20. Segundo ela, muitos países compartilham dessa posição sobre 2014 como data-limite para que sejam estabelecidas novas negociações. O contencioso agrícola, decorrente dos subsídios que países ricos dão aos produtos, é o principal ponto de discórdia com os países emergentes que produzem grãos a custos menores e querem conquistar novos mercados, a exemplo do Brasil.

Os idealistas trabalham de graça 

Quando eu tinha meus 20 anos e era chefe de reportagem do "Jornal de Jundiaí", certa vez fiquei pelo menos umas três horas trancado na sala do dono da empresa, tentando arrancar dele um aumento para alguns companheiros de redação, ainda mais novos que eu.

Naquele tempo ainda acreditava que o jornalismo era mais que um simples trabalho, era um ofício com poder transformador - como muitos, sinceramente achava que as palavras tinham força.

Não me lembro bem do fim da nossa conversa, acho que não consegui nada para os meus colegas, mas me recordo exatamente de uma frase dita pelo tal patrão, com certeza o pior de todos que já conheci. A frase, porém, tal o seu grau de cinismo, era muito boa:
- Adoro os idealistas, pois eles trabalham por pouco, não preciso pagar quase nada para eles.

E assim passei grande parte de minha vida vendo os idealistas morrerem paupérrimos por seus ideais e os maus patrões ficarem cada vez mais ricos.

Ou então assistindo os idealistas entrarem em batalhas de mãos limpas, desarmados, cheios de boas intenções, os corações puros e as mentes em êxtase - e serem trucidados com a facilidade com que a gente esmaga os insetos.

Lula foi um idealista. Como idealista perdeu a eleição em 1982 para o governo do Estado, concorreu à presidência e foi derrotado em 1989, perdeu novamente em 1994 e mais uma vez em 1998.

Lula perdeu todas as eleições majoritárias que disputou enquanto foi um idealista e subia nos palanques tendo como companhia apenas a sua fúria de idealista.

E enquanto vociferava slogans revolucionários de idealista o país afundava.

Um belo dia, Lula resolveu que se quisesse ser um vencedor não bastava ser um idealista.

Entendeu que sozinho o PT não iria nunca ser vitorioso, que precisava fazer alianças com gente de fora para ter alguma chance eleitoral.

Compreendeu que só os idiotas ou suicidas entram numa guerra desarmados.

A partir daí, a história do Brasil mudou, queiram ou não seus inimigos de variados matizes ideológicos.

A sua foto com Maluf, celebrando o apoio do PP à candidatura de Fernando Haddad, sei bem, chocou os idealistas. Não vou perder tempo tentando convencê-los de nada: cada um pensa o que quiser, julga os outros como bem entender, vota em quem achar que merece o seu voto, ou simplesmente o anula.

Como já estou numa idade que me impede de buscar o ouro no fim do arco-íris ou de me aprofundar em discussões sobre o sexo dos anjos, achei que a foto de Lula com Maluf é apenas parte de um jogo muito difícil de ser jogado e entendido por quem não é do ramo, mas que se resume no seguinte: é melhor ganhar um aliado que um inimigo, é melhor somar que dividir, é melhor ter mais tempo de propaganda que o adversário, é melhor se mostrar flexível que intransigente, é melhor ser inteligente que estúpido.

Penso assim: cada idealista com o seu ideal.

O meu, nesta eleição municipal, é o mais singelo do mundo: derrotar José Serra. Se for sem Maluf, melhor, se tiver de ser com ele, tudo bem; se for com Erundina, ótimo, se ela quiser pular do barco e levar junto o seu idealismo, problema dela, que vá ser feliz em outra freguesia.



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terça-feira, 19 de junho de 2012

Processo contra Orlando Silva é arquivado



A Comissão de Ética da Presidência da República arquivou o processo contra o ex-ministro do Esporte Orlando Silva, por suposto envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos. Em outubro de 2011, a comissão abriu procedimento para investigar o ex-ministro, citado em uma reportagem da revista “Veja” como beneficiário de um esquema de desvio de recursos do Programa Segundo Tempo, que financia projetos de organizações não governamentais para estimular a prática de esportes entre jovens.

Na reportagem, o ex-policial militar João Dias Ferreira disse que entregava dinheiro do esquema ao ministro dentro do estacionamento do ministério. O então ministro negou a acusação.
De acordo com o presidente da Comissão de Ética, Sepúlveda Pertence, a denúncia foi arquivada “por absoluta falta de provas”. A decisão foi tomada pela comissão nesta segunda-feira 11.

Após as denúncias de corrupção no Programa Segundo Tempo, Silva deixou o Ministério do Esporte no fim de outubro do ano passado. Com a saída do cargo, o inquérito que investiga o ex-ministro e também o governador do DDistrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), por suposta prática de crimes contra a administração pública, foi encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal ao Superior Tribunal de Justiça, que tem competência para julgar governadores.

Carta Capital

BRASIL DIANTE DE DOIS INIMIGOS

por Mauro Santayana

Em discurso recente no Senado, Pedro Simon advertiu contra o perigo de que o crime organizado se aposse das instituições do Estado. Até o caso Cachoeira, disse o parlamentar gaúcho, havia sido comprovada a corrupção de setores da burocracia dos governos, mas não a da estrutura do Estado.

O governador Marconi Perillo se esquivou, com habilidade, das questões mais graves, em seu depoimento na CPMI. Registre-se que ele se encontrava mais do que tranqüilo, mesmo respondendo às indagações precisas do relator, até que chegou a vez do deputado Miro Teixeira. O experiente homem público, mesmo tendo como ponto de partida o caso menor, que é o da venda da casa de Perillo, deixou, na argúcia de suas perguntas, graves suspeitas.

Como pôde o governador receber o dinheiro de uma empresa e passar a escritura a um particular? Também ficou claro a quem ouviu o governador ser difícil que ele ignorasse as atividades ilícitas do apontado contraventor; ele conhecia, com intimidade, a sua vida empresarial, social e familiar.

O caso Cachoeira – e a advertência de Pedro Simon é importante – mostra como a nação está acossada por um inimigo interno insidioso, que é o crime organizado. Os recursos públicos são desviados para alimentar um estado clandestino, que está deixando de ser paralelo, para constituir o núcleo do poder, em alguns municípios, em muitos estados e na própria União. Essa erosão interna da nacionalidade brasileira, que se assemelha a uma gangrena, coincide com o cerco internacional contra o nosso país.

Enquanto parte da opinião nacional acompanha, indignada, as revelações do esquema Cachoeira, articula-se eixo internacional entre os Estados Unidos, a Espanha e todos os países da Costa do Pacífico, com a exceção do Equador e da Nicarágua, contra o nosso povo, mediante a Aliança do Pacífico. Não há qualquer dissimulação.

Como informa a publicação Tal Cual, da oposição venezuelana, o foro funciona ativamente e já celebrou seis reuniões de alto nível. “Os quatro países signatários da nova Aliança do Pacífico – revela a publicação – têm, todos eles, governos de centro ou centro-direita, crêem no capitalismo, são amigos dos Estados Unidos, e favorecem os tratados de livre comércio e o princípio do livre-comércio em geral. Une-os sobretudo um temor comum e impulso defensivo frente à ascendente potência hegemônica ou neo-imperial que é o Brasil”. E termina: “sentimo-nos satisfeitos e aliviados pelo surgimento do muro de contenção à expansão brasileira, que é a Aliança do Pacífico”.

Assim, os Estados Unidos cuidam de retomar a sua influência e presença militar na América Latina. Nesse sentido, procuram valer-se da Aliança do Pacífico para estabelecer bases militares cercando o Brasil, da Colômbia ao sul do Chile. Leon Paneta, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, acaba de acertar com o presidente do Chile, Sebastián Piñera, o estabelecimento de uma base norte-americana em Fuerte Aguayo, nas proximidades de Valparaíso. Entre outras missões dos militares americanos está a de treinar os carabineiros chilenos, a fim de coibir manifestações populares. Há, ao mesmo tempo, uma orquestração da imprensa e dos meios políticos e empresariais, a fim de reabilitar a figura do ditador Pinochet.

Os Estados Unidos, que mantêm uma base no Chaco paraguaio, quiseram também ocupar o aeroporto de Resistência, na província argentina do Chaco, e o governador Capitanich assentiu, mas o governo de Cristina Kirchner vetou o acordo.

A participação da Espanha nesse novo cerco ao Brasil é evidente. Em Madri, os embaixadores dos quatro paises maiores envolvidos (México, Colômbia, Peru e Chile) se reuniram, para defender a nova aliança, e coube ao embaixador do Chile, Sergio Romero, ser bem explícito. Ao afirmar que o bloco não nasce contra o Brasil, nem contra o Mercosul, aclara, no entanto, que o grupo recebe de braços abertos os investimentos europeus, especialmente da Espanha e dos Estados Unidos - que poderiam formalmente participar da Aliança.

Limpemos os nossos olhos, vejamos os perigos que ameaçam diretamente a nossa sobrevivência como nação independente, nas vésperas do segundo centenário do Grito do Ipiranga. Não temos que ficar abrindo mais divisões internas, e devemos nos unir para enfrentar, ao mesmo tempo, o inimigo interno, que é o crime organizado e suas teias nas instituições do Estado, e os inimigos externos.

Esses, sempre que estivemos avançando no desenvolvimento social e econômico, procuraram quebrar as nossas pernas, contando com traidores brasileiros. Não é preciso recuar muito no passado. Basta lembrar o cerco contra Vargas, em 1954, a tentativa de golpe de 1955, repetida em 1961 e, por fim, o golpe de 1964, com as conseqüências conhecidas. Registre-se que, apesar da vinculação com os Estados Unidos, durante o governo Castelo Branco, e a famosa doutrina das “fronteiras ideológicas”, vigente durante o governo Médici, a partir de Geisel os militares brasileiros não mantiveram a mesma subserviência diante de Washington.

Enfim, espera-se que o Itamaraty mantenha o governo da Sra. Dilma Roussef a par dessas manobras anti-brasileiras, comandadas a partir de Madri e de Washington, e que a CPMI vá até o fundo, nas investigações em curso. Elas não devem parar nas imediações de Anápolis, mas chegar a todo o Brasil, conforme os indícios surjam. É bom conhecer a verdade do passado, mediante a Comissão formada para isso. E se faz também necessário conhecer a verdade do presente, e impedir que o crime tome conta das instituições nacionais, como está ocorrendo no México de Calderón.

E não nos devemos esquecer que o sistema financeiro mundial é também uma forma – superior e mais poderosa – de crime organizado. E muito bem organizado.




http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=17614382#editor/target=post;postID=7757411203643464339
O Senador Fernando Collor, inexplicavelmente, não tem merecido do PiG (*) a atenção que merece.

Que pena o deputado  Miro Teixeira, tão preocupado com a integridade da imprensa brasileira, não atentar para as graves palavras do Senador Fernando Collor.

Disse Collor na sessão da CPI desta quinta-feira (e que o PiG (*) ignorou):

- Eu não tenho medo da imprensa;

- Não sigo a pauta da imprensa (viu, Miro ?);

- Não tenho medo nem do Procurador Geral da República;

- Procurador que vem cometendo crimes;

- Não encontrei muito eco dos que aqui tem medo, quando disse que há uma quadrilha instalada na revista Veja;

- Quando disse que o Policarpo Júnior é um criminoso;

- Nenhum eco dos que, aqui, conjugam o medo;

- Não tenho medo de quem quer que seja;

- Pela primeira vez, desde 1988 quando a Procuradoria Geral da República foi reformulada, o Conselho Nacional do Ministério Público aceitou a representação que fiz contra o Procurador Geral e sua mulher;

- Porque eles fazem “moeda de troca”;

- E não tive eco;

- Os Procuradores Batista de Oliveira e Daniel Resende Salgado trocavam com os jornalistas Gustavo Ribeiro e Rodrigo Rangel, da Veja – num coito de bandidos – a íntegra do que tramitava na 11ª Vara da Justiça Federal de Anápolis (contra Carlinhos Cachoeira);

- o Policarpo faz esse papel desde 2005;

- Policarpo concentrava o poder de usar as informações trocadas com os procuradores, em benefício pecuniário da Veja, nesse coito de bandidos;

- o Procurador Geral tem que ser apeado !

- muitos aqui me dizem em surdina, “Collor, vá em frente”;

- e dizem em surdina, porque tem o rabo preso com o PGR;

- eu não tenho medo de ninguém, nem da imprensa;

A seguir, Collor extraiu do relator Odair Cunha a informação de que Pagot e Cavendish, mais à frente, serão ouvidos na CPI, como deseja também este Conversa Afiada.
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

‘Não vamos pagar por uma crise que não é nossa’, diz Dilma


Naira Hofmeister,

especial para O Globo


PORTO ALEGRE – Foi entre os gritos de apoio e saudação do público que lotou o auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e um protesto externo, organizado por sindicatos de bancários e servidores públicos, que a presidente Dilma Rousseff subiu à tribuna para defender o Brasil Sem Miséria, cujo pacto da região Sul foi assinado nesta sexta-feira, em Porto Alegre, pelos governadores Tarso Genro (RS), Raimundo Colombo (SC) e Beto Richa (PR). Em um discurso, a presidente destacou a importância do programa, que tem como meta retirar da miséria extrema 16 milhões de pessoas em quatro anos. Mais do que isso, Dilma pretende converter essa parcela da população, que sobrevive com menos de R$ 70 por mês, em consumidores que impulsionem o crescimento do Brasil, mantendo o país à parte da crise internacional que atinge os mercados europeus e dos Estados Unidos.


- Tirar 16 milhões da pobreza é um imperativo moral e ético, mas também um instrumento econômico, porque é transformar brasileiros em cidadãos plenos, em consumidores – justificou a presidente.


Para a presidente, esta é a melhor fórmula para evitar que a crise tome proporções maiores em território nacional:


- Nós não somos uma ilha: de uma forma ou de outra, somos atingidos pela crise. Mas como a nossa principal força é o mercado interno, a nossa capacidade de resistência é muito elevada.


Assim como fez durante seu discurso na reunião de abertura da Conferência das Nações Unidas, DIlma criticou a atitudes dos países desenvolvidos que optaram por cortar programas sociais e salários em lugar de estimular o desenvolvimento através da ampliação do consumo e da atividade industrial:


- Nós vemos os países envolvidos em discussões que parecem um tanto quanto envelhecidas, porque nós vivemos a nossa crise da dívida soberana a partir de 1982. Nós vivemos todo um processo de fazer um ajuste e depois não crescíamos – relembrou.


Dilma destacou que o maior passo para a soberania econômica brasileira aconteceu quando o país liquidou a sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A presidente ressaltou o fato que hoje o Brasil tem recursos aplicados no FMI e futuramente irá ter uma maior participação:


- Agora nós jamais aceitaremos que certos critérios que nos impuseram sejam impostos a outros países.


Ela se solidarizou com os protestos que reúnem milhares de norte-americanos intitulado Ocupe Wall Street, dizendo que simpatiza com dois lemas dos manifestantes:


- Um diz: “nós não vamos pagar pela sua crise” e eu posso garantir que o Brasil não vai pagar por uma crise que não é nossa.


Durante a solenidade da manhã desta sexta-feira, em Porto Alegre, dezenas de acordos foram firmados para garantir a inclusão dos 716 mil cidadão que vivem em miséria extrema nos três estados do Sul do Brasil no Cadastro Único dos programas sociais do governo federal. Na área urbana, onde vive 60% dessa população, os convênios foram firmados com a Associação Brasileira de Supermercados (Abas), o Walmart e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Eles garantem que as vagas de emprego das redes varejistas e da construção civil sejam preenchidas com pessoas cadastradas pelo governo e beneficiárias dos programas sociais como o Bolsa Família. No campo, os tratados determinaram a compra e a distribuição de milhares de sementes crioulas para agricultores familiares em situação de extrema pobreza.


Saiu na Folha (*) : países do G20 – de que faz parte o Brasil – garantem dinheiro ao FMI para resolver a crise.

Navalha
Está claro que a economia mundial não vai cair numa depressão.
Está claro que, embora o Brasil não seja uma ilha, dela sairá firme e forte.
Porque o Brasil tem esse mercado interno fabuloso, que começou a entrar no sistema capitalista – o “processo civilizatório” de que fala o Delfim – no governo do Nunca Dantes.
A Presidenta mantém o compromisso de tirar 16 milhões de brasileiros da miséria – é o que foi fazer em Curitiba e em Porto Alegre – veja no Blog do Planalto.
Mas a Presidenta também foi a Curitiba e a Porto Alegre para levar, a cada uma, R$ 1 bi para o metro.
A economia mundial se sacode, mas a brasileira segue nos trilhos.
Ainda está cedo para falar em “marolinha”.
Mas, criar 2 milhões de empregos até setembro é notícia de abater tucano paulista com um martelo na cabeça.
Clique aqui para ler “Bomba ! Programa do PSDB tem grandes novidades: FHC, Cerra (que não vai largar o osso nem depois de morto) e o Aécio Never, que tem o peso político de um pão de queijo”.
A Presidenta, aos poucos, deposita a crise da Grécia (e da Urubóloga, seu apóstolo) no colo dos neolibelês (**).
Breve, ela vai superar os impasses do FHC e a herança do Lula.
Porque ela devia ler o “On China”, do Henry Kissinger.
Mas, isso fica para amanha.



Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

Os gregos em Los Cabos e as intrigas no continente

Mauro Santayana

Há uma curiosa interpretação dos resultados eleitorais da Grécia – a de que a direita ganhou as eleições. O que as urnas revelaram foi a vitória da razão nacionalista: tanto os conservadores da Nova Democracia – não tão conservadores assim – quanto a extrema-direita e a coligação de esquerda Syriza, defendem uma postura de resistência contra as exigências da Europa, ditadas pela chanceler Ângela Merkel. O Pasok, provável parceiro de Samaras no governo, tampouco se encontra à direita do espectro.
Apesar de todo o simbolismo da Grécia, que teve seu fulgor no tempo clássico, e se escondeu da História até recentemente, o problema do mundo não se encontra em Atenas. Ele, como o diabo, está em todos os lugares. Como temos insistido, ele é de natureza política e se resume na aspiração das finanças internacionais em criar um estado único universal, sob seu domínio direto e tirânico, com a definitiva escravização dos povos,  e a resistência do sentimento nacionalista e da razão humanística. Para lembrar que o vocábulo problema vem do léxico grego (proboulema significava projeto de lei enviado à Boule, ou seja, ao parlamento de Atenas), a questão é sempre política.
É uma luta que se encontra na alma histórica do Ocidente. A Igreja presumia ter herdado o imperialismo romano, e os anglossaxões, têm buscado, desde o século 16, ocupar o mando, ao substituir o Sacro Império,  primeiro a partir de Londres e, mais tarde, de Washington.
A capital do mundo, nestes dois dias, se deslocou para Los Cabos, com a reunião do Grupo dos 20.  Ontem, segunda-feira, o New York Times publicava matéria sobre a “nova rivalidade” no universo latino-americano, entre o México e o Brasil. Segundo a análise, o Brasil está perdendo espaço para o México, que –  como é óbvio – segue integralmente a cartilha neoliberal e se encontra condenado pela natureza e pela história a viver encostado nos Estados Unidos, como  irmão xifópago atrofiado: não podem separar-se os dois, a menos que uma catástrofe planetária abra o mar ao longo da fronteira. Nem podem integrar-se, embora a fatalidade demográfica, com a predominância mestiça, e a força genética, possa expulsar, com o tempo que se torna veloz, a cultura da Nova Inglaterra.
De acordo com o texto do jornal de Nova Iorque, estamos, os brasileiros, dependendo da China, que importa as nossas mercadorias, enquanto indústrias americanas, no México, competem com o país asiático, suprindo o mercado norte-americano, em condições competitivas com os chineses. Em suma, a recessão chinesa significará uma desgraça para o nosso país.
As coisas não são tão simples assim. A própria matéria do jornal americano lembra que temos dois trunfos. O primeiro deles é o da política social, com o crescimento do mercado interno. O outro é o de que as circunstâncias, ao nos fazer parceiros da China, nos fazem seus companheiros de viagem – pelo menos nesse trecho histórico. Faltou, ao falar na China, referir-se aos Brics.
Pela primeira vez, na Idade Moderna – isto é, no meio milênio que nos separa do Renascimento e da descoberta do hemisfério em que vivemos – uma realidade geopolítica nova abre  cunha no sistema internacional de poder sob a hegemonia da Europa Ocidental (da qual os Estados Unidos são projeção geopolítica): a aliança entre os países que emergem. Ela rompe os marcos geográficos e se alicerça no fator humano, ao englobar a metade da população do mundo, que se encontram na Ásia, na África e no Brasil. E não nos esqueçamos que, na hora da decisão, o Mercosul se somará com o Brasil.
Mesmo que essa aliança não venha a ter futuro em horizonte mais longo, porque a História não é preguiçosa, essa coalizão pode definir o destino da Humanidade nas próximas décadas.
Assim, todas as previsões no curto prazo são meras especulações que atendem ao desejo dos analistas. Os gregos, açulados pela emergência, provavelmente encontrarão um caminho intermediário, entre a ruptura definitiva com o euro e a submissão a Berlim. Se se confirmar a decisão de Tsipras, de manter a coligação de esquerda na oposição, o governo a ser formado terá que dar alguma satisfação ao povo e ela só pode ser entendida na amenização das medidas de arrocho exigidas pela senhora Merkel.
O governo brasileiro tem a consciência de que as procelas atingirão também o nosso país. Daí as medidas de cautela que estão sendo tomadas. A reunião de Dilma com os governadores, embora não tivesse tom dramático, revelou a sua preocupação em assegurar a unidade institucional interna, sem prejuízo das divergências político-partidárias, que se acirrarão nestes dois anos próximos. A decisão de conceder empréstimos federais aos estados, para investimentos, em condições bem mais amenas do que as impostas por Fernando Henrique para a amortização das dívidas antigas, vindas  ainda do governo militar, serve a esse propósito. Estamos atingindo uma consciência republicana que separa as instituições permanentes do Estado das naturais divergências dos partidos, sujeitos às hesitações das circunstâncias.
O sentimento de nação sempre prevalece para erguer diques e quebra-ventos contra os vendavais planetários. Não devemos nos esmorecer na tarefa de buscar a unidade da América do Sul, e isso implica desdenhar as provocações externas que buscam criar arestas entre o Brasil e seus vizinhos. Somos suficientemente adultos para reconhecer a nossa força, e entender que devemos administrá-la com modéstia e prudência. De qualquer forma, há duas eleições que podem mudar tudo – além dos rumos que a Grécia tomará: as eleições presidenciais mexicanas dentro de poucos dias, e as eleições alemãs do ano que vem. De Washington nada devemos esperar de bom; se Obama nos quer cozinhar em banho-maria, Mitt Romney pretende assar-nos em fogo vivo.

Estabilidade no caos

VLADIMIR SAFATLE 

A Europa pode respirar aliviada. Tudo continuará do mesmo jeito. Com a derrota "in extremis" dos esquerdistas do Syriza nas eleições gregas do último domingo, a União Europeia poderá continuar sua bem-sucedida farsa visando levar a opinião pública mundial a crer que os gregos são os únicos responsáveis por uma crise que eles não inventaram.

A diretora-geral do FMI poderá continuar afirmando que tem mais dor no coração pelo sofrimento dos filhos dos nigerianos do que pelos filhos dos gregos, mesmo que não faça absolutamente nada para salvar um ou outro.

Por fim, os economistas, preocupados em continuar a trabalhar e fazer consultorias para bancos e fundos de investimento, continuarão a creditar toda a destruição pela qual passa a Grécia à "gastança" excessiva do Estado e à "preguiça" dos povos do Sul.

Durante toda a campanha, a imprensa mundial criou uma dicotomia sintomática entre os partidos "pró-europeus" (no caso, a direita da Nova Democracia e a social-democracia do Pasok) e os "antieuropeus", Syriza à frente.

Mas a boa pergunta é: o que significa, nesse contexto, "ser europeu"? Uma associação entre os que partilham esperanças de cosmopolitismo, igualdade social e segurança para os mais vulneráveis? Ou um clube daqueles que permitem a condução da economia de seus países pelos imperativos de salvação do sistema financeiro internacional?

Como se não bastasse a destruição da Europa após a espoliação de recursos públicos para salvar bancos falidos, vemos agora o sequestro de seu significante. Daqui para a frente, "Europa" significa: "aqueles que aceitam jogar, até a morte, as regras de um jogo econômico no qual a destruição social é compensada pela xenofobia".

Nas eleições gregas, os verdadeiros europeus eram do Syriza, pois eles representavam o histórico de lutas sociais que marcaram o continente. Suas propostas sobre a dívida grega consistiam, em larga medida, na aplicação das mesmas condições das quais a

Alemanha se beneficiou após a Segunda Guerra Mundial: prazo distendido de pagamento, possibilidade de usar o dinheiro emprestado para investimentos públicos, cláusulas de salvaguarda para políticas sociais, entre outras. Mas isso era pedir demais.

Enquanto isso, a única nação que conseguiu recuperar-se da crise econômica foi a Islândia: um país que se recusou a usar dinheiro público para pagar a dívida de seu sistema bancário, que impôs controle de capital e estatizou todas as operações domésticas de seus bancos. Uma nação que, simplesmente, não existe no mapa da maioria dos analistas econômicos.


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Os idealistas trabalham de graça


Quando eu tinha meus 20 anos e era chefe de reportagem do "Jornal de Jundiaí", certa vez fiquei pelo menos umas três horas trancado na sala do dono da empresa, tentando arrancar dele um aumento para alguns companheiros de redação, ainda mais novos que eu.
Naquele tempo ainda acreditava que o jornalismo era mais que um simples trabalho, era um ofício com poder transformador - como muitos, sinceramente achava que as palavras tinham força.
Não me lembro bem do fim da nossa conversa, acho que não consegui nada para os meus colegas, mas me recordo exatamente de uma frase dita pelo tal patrão, com certeza o pior de todos que já conheci. A frase, porém, tal o seu grau de cinismo, era muito boa:
- Adoro os idealistas, pois eles trabalham por pouco, não preciso pagar quase nada para eles.
E assim passei grande parte de minha vida vendo os idealistas morrerem paupérrimos por seus ideais e os maus patrões ficarem cada vez mais ricos.
Ou então assistindo os idealistas entrarem em batalhas de mãos limpas, desarmados, cheios de boas intenções, os corações puros e as mentes em êxtase - e serem trucidados com a facilidade com que a gente esmaga os insetos.
Lula foi um idealista. Como idealista perdeu a eleição em 1982 para o governo do Estado, concorreu à presidência e foi derrotado em 1989, perdeu novamente em 1994 e mais uma vez em 1998.
Lula perdeu todas as eleições majoritárias que disputou enquanto foi um idealista e subia nos palanques tendo como companhia apenas a sua fúria de idealista.
E enquanto vociferava slogans revolucionários de idealista o país afundava.
Um belo dia, Lula resolveu que se quisesse ser um vencedor não bastava ser um idealista.
Entendeu que sozinho o PT não iria nunca ser vitorioso, que precisava fazer alianças com gente de fora para ter alguma chance eleitoral.
Compreendeu que só os idiotas ou suicidas entram numa guerra desarmados.
A partir daí, a história do Brasil mudou, queiram ou não seus inimigos de variados matizes ideológicos.
A sua foto com Maluf, celebrando o apoio do PP à candidatura de Fernando Haddad, sei bem, chocou os idealistas. Não vou perder tempo tentando convencê-los de nada: cada um pensa o que quiser, julga os outros como bem entender, vota em quem achar que merece o seu voto, ou simplesmente o anula.
Como já estou numa idade que me impede de buscar o ouro no fim do arco-íris ou de me aprofundar em discussões sobre o sexo dos anjos, achei que a foto de Lula com Maluf é apenas parte de um jogo muito difícil de ser jogado e entendido por quem não é do ramo, mas que se resume no seguinte: é melhor ganhar um aliado que um inimigo, é melhor somar que dividir, é melhor ter mais tempo de propaganda que o adversário, é melhor se mostrar flexível que intransigente, é melhor ser inteligente que estúpido.
Penso assim: cada idealista com o seu ideal.
O meu, nesta eleição municipal, é o mais singelo do mundo: derrotar José Serra. Se for sem Maluf, melhor, se tiver de ser com ele, tudo bem; se for com Erundina, ótimo, se ela quiser pular do barco e levar junto o seu idealismo, problema dela, que vá ser feliz em outra freguesia.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

ONG da Globo garfou R$ 2,9 milhões dos cofres públicos às custas da UNE


O jornalão O Globo critica convênios e patrocínios à UNE (União Nacional dos Estudantes) bem acima do tom.

Mas o que o jornalão não conta, é que a ONG da Globo, Fundação Roberto Marinho, usando da lei de incentivo à cultura, garfou R$ 2,9 milhões do dinheiro público dos impostos, para fazer a "Memória da UNE" (Ver PRONAC nº 030926 no Ministério da Cultura), quando queria melhorar um pouco sua imagem de empresa filhote da ditadura.


Clique na imagem para ampliar



Por sinal, é difícil compreender como um site relativamente modesto, e que deveria ter o respaldo técnico da TV Globo na produção de vídeos, conseguiu consumir tanto dinheiro:

Clique na imagem para ampliar

http://www.mme.org.br/

O que os amigos leitores que são webmasters ou webdesign acham?

Que tal o jornalão fazer uma reportagem a respeito, abrindo com transparência a prestação de contas?

Detalhes sórdidos

Apesar do "site" ser feito com dinheiro público e com informações que pertencem à História do Brasil, a Fundação Roberto Marinho registrou todos os direitos autorais em seu nome.

Na proposta apresentada ao Ministério da Cultura, a ONG da Globo queria que os cofres públicos pagassem:

- R$ 5.000,00 para "coquetel"
- R$ 37.800,00 para compra de computador Pentium.

Estes itens foram vetados.



Fonte: Blog Os Amigos do Presidente Lula

Abra a Boca, Cidadão!: A Semana, por Laerte Braga

Abra a Boca, Cidadão!: A Semana, por Laerte Braga: A SEMANA A CÚPULA DOS POVOS – CAPITALISMO NÃO É DALTONISMO, É CINISMO E BARBÁRIE Laerte Braga O verde mais cinza, em tons Marina da S...

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O financiamento de Washington a jornalistas

publicado em 28 de julho de 2010 às 11:40
23/7/2010|
Como os EUA financiaram mais de 150 jornalistas contra Chávez
por Eva Golinger, no Diário Liberdade
Documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado dos Estados Unidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA, por suas siglas em inglês) evidenciam mais de US$ 4 milhões em financiamento a meios e jornalistas venezuelanos durante os últimos anos.
O financiamento tem sido canalizado diretamente do Departamento de Estado através de três entidades públicas estadunidenses: a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento (PADF, por suas siglas em inglês), Freedom House e pela Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid).
Em uma tosca tentativa de esconder suas ações, o Departamento de Estado censurou a maioria dos nomes das organizações e dos jornalistas recebendo esses fundos multimilionários. No entanto, um documento datado de julho de 2008 deixou sem censura os nomes das principais organizações venezuelanas recebendo os fundos: Espaço Público e Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS).
Espaço Público e IPYS são as entidades que figuram como as encarregadas de coordenar a distribuição dos fundos e os projetos do Departamento de Estado com os meios de comunicação privados e jornalistas venezuelanos.
Os documentos evidenciam que a PADF, o FUPAD, em espanhol, implementou programas na Venezuela dedicados à “promoção da liberdade dos meios e das instituições democráticas”, além de cursos de formação para jornalistas e o desenvolvimento de novos meios na Internet devido ao que considera as “constantes ameaças contra a liberdade de expressão” e “o clima de intimidação e censura contra os jornalistas e meios”.
Financiamento a páginas web anti-Chávez
Um dos programas da Fupad, pelo qual recebeu US$ 699.996 do Departamento de Estado, em 2007, foi dedicado ao “desenvolvimento dos meios independentes na Venezuela” e para o jornalismo “via tecnologias inovadoras”. Os documentos evidenciam que mais de 150 jornalistas foram capacitados e treinados pelas agências estadunidenses e 25 páginas web foram financiadas na Venezuela com dinheiro estrangeiro. Espaço Público e IPYS foram os principais executores desse projeto em âmbito nacional, que também incluiu a outorga de “prêmios” de 25 mil dólares a vários jornalistas.
Durante os últimos dois anos, aconteceu uma verdadeira proliferação de páginas web, blogs e membros do Twitter e do Facebook na Venezuela que utilizam esses meios para promover mensagens contra o governo venezuelano e o presidente Chávez e que tentam distorcer e manipular a realidade sobre o que acontece no país.
Outros programas manejados pelo Departamento de Estado selecionaram jovens venezuelanos para receber treinamento e capacitação no uso dessas tecnologias e para criar o que chamam uma “rede de ciberdissidentes” na Venezuela.
Por exemplo, em abril deste ano, o Instituto George W. Bush, juntamente com a organização estadunidense Freedom House, convocou um encontro de “ativistas pela liberdade e pelos direitos humanos” e “especialistas em Internet” para analisar o “movimento global de ciberdissidentes”. Ao encontro, que foi realizado em Dallas, Texas, foi convidado Rodrigo Diamanti, da organização Futuro Presente da Venezuela.
No ano passado, durante os dias 15 e 16 de outubro, a Cidade do México foi a sede da 2ª Cúpula da Aliança de Movimentos Juvenis (“AYM”, por suas siglas em inglês). Patrocinado pelo Departamento de Estado, o evento contou com a participação da Secretária De Estado Hillary Clinton e vários “delegados” convidados pela diplomacia estadunidense, incluindo aos venezuelanos Yon Goicochea (da organização venezuelana Primero Justicia); o dirigente da organização Venezuela de Primera, Rafael Delgado; e a ex-dirigente estudantil Geraldine Álvarez, agora membro da Fundação Futuro Presente, organização criada por Yon Goicochea com financiamento do Instituto Cato, dos EUA.
Junto a representantes das agências de Washington, como Freedom House, o Instituto Republicano Internacional, o Banco Mundial e o Departamento de Estado, os jovens convidados receberam cursos de “capacitação e formação” dos funcionários estadunidenses e dos criadores de tecnologias como Twitter, Facebook, MySpace, Flicker e Youtube.
Financiamento a universidades
Os documentos desclassificados também revelam um financiamento de US$ 716.346 via organização estadunidense Freedom House, em 2008, para um projeto de 18 meses dedicado a “fortalecer os meios independentes na Venezuela”. Esse financiamento através da Freedom House também resultou na criação de “um centro de recursos para jornalistas” em uma universidade venezuelana não especificada no relatório. Segundo o documento oficial, “O centro desenvolverá uma rádio comunitária, uma página web e cursos de formação”, todos financiados pelas agências de Washington.
Outros US$ 706.998 canalizados pela Fupad foram destinados para “promover a liberdade de expressão na Venezuela”, através de um projeto de dois anos orientado ao jornalismo investigativo e “às novas tecnologias”, como Twitter, Internet, Facebook e Youtube, entre outras. “Especificamente, a Fupad e seu sócio local capacitarão e apoiarão [a jornalistas, meios e ONGs] no uso das novas tecnologias midiáticas em várias regiões da Venezuela”.
“A Fupad conduzirá cursos de formação sobre os conceitos do jornalismo investigativo e os métodos para fortalecer a qualidade da informação independente disponível na Venezuela. Esses cursos serão desenvolvidos e incorporados no currículo universitário”.
Outro documento evidencia que três universidades venezuelanas, a Universidade Central da Venezuela, a Universidade Metropolitana e a Universidade Santa Maria, incorporaram cursos sobre jornalismo de pós-graduação e em nível universitário em seus planos de estudos, financiados pela Fupad e pelo Departamento de Estado. Essas três universidades têm sido os focos principais dos movimentos estudantis antichavistas durante os últimos três anos.
Sendo o principal canal dos fundos do Departamento de Estado aos meios privados e jornais na Venezuela, a Fupad também recebeu US$ 545.804 para um programa intitulado “Venezuela: As vozes do futuro”. Esse projeto, que durou um ano, foi dedicado a “desenvolver uma nova geração de jornalistas independentes através do uso das novas tecnologias”. Também a Fupad financiou vários blogs, jornais, rádios e televisões em regiões por todo o país para assegurar a publicação dos artigos e transmissões dos “participantes” do programa.
A Usaid e a Fupad
Mais fundos foram distribuídos através do escritório da Usaid em Caracas, que maneja um orçamento anual entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões. Esses milhões fazem parte dos 40 a US$ 50 milhões que anualmente as agências estadunidenses, europeias e canadenses estão dando aos setores antichavistas na Venezuela.
A Fundação Panamericana para o Desenvolvimento está ativa na Venezuela desde 2005, sendo uma das principais contratistas da Usaid no país sulamericano. A Fupad é uma entidade criada pelo Departamento de Estado em 1962, e é “filiada” à organização de Estados Americanos (OEA). A Fupad implementou programas financiados pela Usaid, pelo Departamento de Estado e outros financiadores internacionais para “promover a democracia” e “fortalecer a sociedade civil” na América Latina e Caribe.
Atualmente, a Fupad maneja programas através da Usaid com fundos acima de US$ 100 milhões na Colômbia, como parte do Plano Colômbia, financiando “iniciativas” na zona indígena em El Alto; e leva dez anos trabalhando em Cuba, de forma “clandestina”, para fomentar uma “sociedade civil independente” para “acelerar uma transição à democracia”.
Na Venezuela, a Fupad tem trabalhado para “fortalecer os grupos locais da sociedade civil”. Segundo um dos documentos desclassificados, a Fupad “tem sido um dos poucos grupos internacionais que tem podido outorgar financiamento significativo e assistência técnica a ONGs venezuelanas”.
Os “sócios” venezuelanos
Espaço Público é uma associação civil venezuelana dirigida pelo jornalista venezuelano Carlos Correa. Apesar de sua página web (www.espaciopublic.org) destacar que a organização é “independente e autônoma de organizações internacionais ou de governos”, os documentos do Departamento de Estado evidenciam que recebe um financiamento multimilionário do governo dos Estados Unidos. E tal como esses documentos revelam, as agências estadunidenses, como a Fupad, não somente financiam grupos como o Espaço Público, mas os consideram como seus “sócios” e desde Washington lhes enviam materiais, linhas de ação e diretrizes que são aplicadas na Venezuela, e exercem um controle sobre suas operações para assegurar que cumprem com a agenda dos Estados Unidos.
O Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) é nada mais do que um porta-voz de Washington, criado e financiado pelo National Endowment for Democracy (NED) e por outras entidades conectadas com o Departamento de Estado. Seu diretor na Venezuela é o jornalista Ewald Sharfenberg, conhecido opositor do governo de Hugo Chávez. IPYS é membro da agrupação Intercâmbio Internacional de Livre Expressão (IFEX), financiado pelo Departamento de Estado e é parte da Rede de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), organização francesa financiada pela NED, pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) e pelo Comitê para a Assistência para uma Cuba Livre.
Pública: Como funcionam as revoluções de veludo
Do Viomundo - publicado em 18 de junho de 2012 às 10:39
REVOLUÇÃO À AMERICANA
18.06.12
Por Natalia Viana, na Pública
Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram como age uma organização que treina oposicionistas pelo mundo afora – do Egito à Venezuela
No canto superior do documento, um punho cerrado estampa a marca da organização. No corpo do texto lê-se: “Há uma tendência presidencialista forte na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como podemos trabalhar isso?”. Mais abaixo, o leitor encontra as seguintes frases: “Economia: o petróleo é da Venezuela, não do governo. É o seu dinheiro, é o seu direito… A mensagem precisa ser adaptada para os jovens, não só para estudantes universitários… E as mães, o que querem? Controle da lei, a polícia agindo sob autoridades locais. Nós iremos prover os recursos necessários para isso”.
O texto não está em espanhol nem foi escrito por algum membro da oposição venezuelana; escrito em inglês, foi produzido por um grupo de jovens baseados em outro lado do mundo – na Sérvia.
O documento “Análise da situação na Venezuela, Janeiro de 2010”, produzido pela organização Canvas, cuja sede fica em Belgrado, está entre os documentos da empresa de inteligência Stratfor vazados pelo WikiLeaks.
O último vazamento do WikiLeaks – ao qual a Pública teve acesso – mostra que o fundador desta organização se correspondia sempre com os analistas da Stratfor, empresa que mistura jornalismo, análise política e métodos de espionagem para vender “análise de inteligência” a clientes que incluem corporações como a Lockheed Martin, Raytheon, Coca-Cola e Dow Chemical – para quem monitorava as atividades de ambientalistas que se opunham a elas – além da Marinha americana.
O Canvas (sigla em inglês para “centro para conflito e estratégias não-violentas”) foi fundado por dois líderes estudantis da Sérvia, que participaram da bem-sucedida revolta que derrubou o ditador Slobodan Milosevic em 2000. Durante dois anos, os estudantes organizaram protestos criativos, marchas e atos que acabaram desestabilizando o regime.
Depois, juntaram o cabedal de conhecimento em manuais e começaram a dar aulas a grupos oposicionistas de diversos países sobre como se organizar para derrotar o governo. Foi assim que chegaram à Venezuela, onde começaram a treinar líderes da oposição em 2005. Em seu programa de TV, Hugo Chávez acusou o grupo de golpista e de estar a serviço dos Estados Unidos. “É o chamado golpe suave”, disse.
Os novos documentos analisados pela Pública mostram que se Chávez não estava totalmente certo – mas também não estava totalmente errado.
O começo, na Sérvia
“Foram dez anos de organização estudantil durante os anos 90”, diz Ivan Marovic, um dos estudantes que participaram dos protestos contra Milosevic. “No final, o apoio do exterior finalmente veio. Seria bobo eu negar isso. Eles tiveram um papel importante na etapa final. Sim, os Estados Unidos deram dinheiro, mas todo mundo deu dinheiro: alemães, franceses, espanhóis, italianos. Todos estavam colaborando porque ninguém mais apoiava o Milosevic”, disse ele em entrevista à Pública.
“Dependendo do país, eles doavam de um determinado jeito. Os americanos têm um ‘braço’ formado por ONGs muito ativo no apoio a certos grupos, outros países como a Espanha não têm e nos apoiavam através do ministério do exterior”. Entre as ONGs citadas por Marovic estão o National Endowment for Democracy (NED), uma organização financiada pelo congresso americano, a Freedom House e o International Republican Institute, ligado ao partido republicano – ambos contam polpudos financiamentos da USAID, a agência de desenvolvimento americana que capitaneou movimentos golpistas na América Latina nos anos 60, inclusive no Brasil.
Todas essas ONGs são velhas conhecidas dos governos latinoamericanos, incluindo os mais recentes.
Foi o IRI, por exemplo, que ministrou “cursos de treinamento político” para 600 líderes da oposição haitiana na República Dominicana durante os anos de 2002 e 2003.
O golpe contra Jean-Baptiste Aristide, presidente democraticamente eleito, aconteceu em 2004. Investigado pelo Congresso dos Estados Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas organizações que conspiraram para derrubar Aristide.
Na Venezuela, o NED enviou US$ 877 mil para grupos de oposição nos meses anteriores ao golpe de Estado fracassado em 2002, segundo revelou o New York Times.
Na Bolívia, segundo documentos do governo americano obtidos pelo jornalista Jeremy Bigwood, parceiro da Pública, a USAID manteve um “Escritório para Iniciativas de Transição”, que investiu US$ 97 milhões em projetos de “descentralização” e “autonomias regionais” desde 2002, fortalecendo os governos estaduais que se opõem a Evo Morales.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas, Srdja Popovic, diz que a organização não recebe fundos governamentais de nenhum país e que seu maior financiador é o empresário sérvio Slobodan Djinovic, que também foi líder estudantil.
Porém, um PowerPoint de apresentação da organização, vazado pelo WikiLeaks, aponta como parceiros do Canvas o IRI e a Freedom House, que recebem vultosas quantias da USAID.
Para o pesquisador Mark Weisbrot, do instituto Center for Economic and Policy Research, de Washington, organizações como a IRI e Freedom House “não estão promovendo a democracia”.
“Na maior parte do tempo, estão promovendo exatamente o oposto. Geralmente promovem as políticas americanas em outros países, e isto significa oposição a governos de esquerda, por exemplo, ou a governos dos quais os Estados Unidos não gostam”.
Fase dois: da Bolívia ao Egito
Vista através do mesmo PowerPoint de apresentação, a atuação do Canvas impressiona. Entre 2002 e 2009, realizou 106 workshops, alcançando 1800 participantes de 59 países. Nem todos são desafetos americanos – o Canvas treinou ativistas por exemplo na Espanha, no Marrocos e no Azerbaijão – mas a lista inclui muitos deles: Cuba, Venezuela, Bolívia, Zimbabue, Bielorrussia, Coreia do Norte, Siria e Irã.
Segundo o próprio Canvas, sua atuação foi importante em todas as chamadas “revoluções coloridas” que se espalharam por ex-países da União Soviética nos anos 2000.
O documento aponta como “casos bem sucedidos” a transferência de conhecimento para o movimento Kmara em 2003 na Geórgia, grupo que lançou a Revolução Rosas e derrubou o presidente; uma ajudinha para a Revolução Laranja, em 2004, na Ucrânia; treinamento de grupos que fizeram a Revolução dos Cedros em 2005, no Líbano; diversos projetos com ONGs no Zimbabue e a coalizão de oposição a Robert Mugabe; treinamento de ativistas do Vietnã, Tibete e Burma, além de projetos na Síria e no Iraque com “grupos pró-democracia”. E, na Bolívia, “preparação das eleições de 2009 com grupos de Santa Cruz” – conhecidos como o mais ferrenho grupo de adversários de Evo Morales.
Até 2009, o principal manual do grupo, “Luta não violenta – 50 pontos cruciais” já havia sido traduzido para 5 línguas, incluindo o árabe e o farsi.
Um das ações do Canvas que ganhou maior visibilidade foi o treinamento de uma liderança do movimento 6 de Abril, considerado o embrião da primavera egípcia. O movimento começou a ser organizado pelo Facebook para protestar em solidariedade a trabalhadores têxteis da cidade de Mahalla al Kubra, no Delta do Nilo. Foi a primeira vez que a rede social foi usada para este fim no Egito. Em meados de 2009, Mohammed Adel, um dos líderes do 6 de Abril viajou até Belgrado para ser treinado por Popovic.
Nos emails aos analistas da Stratfor, Popovic se gaba de manter relações com os líderes daquele movimento, em especial com Mohammed Adel – que se tornou uma das principais fontes de informação a respeito do levante no Egito em 2011. Na comunicação interna da Stratfor, ele é mencionado sob o codinome RS501.
“Acabamos de falar com alguns dos nossos amigos no Egito e descobrimos algumas coisas”, informa ele no dia 27 de janeiro de 2011. “Amanhã a irmadade muçulmana irá levar sua força às ruas, então pode ser ainda mais dramático… Nós obtivemos informações melhores sobre estes grupos e como eles têm se organizado nos últimos dias, mas ainda estamos tentando mapeá-los”.
Documentos da Stratfor
Os documentos vazados pelo WikiLeaks mostram que o Canvas age de maneira menos independente do que deseja aparentar. Em pelo menos duas ocasiões, Srdja Popovic contou por email ter participado de reuniões no National Securiy Council, o conselho de segurança do governo americano.
A primeira reunião mencionada aconteceu no dia 18 de dezembro de 2009 e o tema em pauta era Russia e a Geórgia. Na época, integrava o NSC o “grande amigo” de Popovic – nas suas próprias palavras – o conselheiro sênior de Obama para a Rússia, Michael McFaul, que hoje é embaixador americano naquele país.
No mesmo encontro, segundo Popovic relatou mais tarde, tratou-se do financiamento de oposicionistas no Irã através de grupos pró-democracia, tema de especial interesse para ele.
“A política para o Irã é feita no NSC por Dennis Ross. Há uma função crescente sobre o Irã no Departamento de Estado sob o Secretário Assistente John Limbert. As verbas para programas pró-democracia no Irã aumentaram de US$ 1,5 milhão em 2004 para US$ 60 milhões em 2008 (…) Depois de 12 de junho de 2009, o NSC decidiu neutralizar os efeitos dos programas existentes, que começaram com Bush. Aparentemente a lógica era que os EUA não queriam ser vistos tentando interferir na política interna do Irã. Os EUA não querem dar ao regime iraniano uma desculpa para rejeitar as negociações sobre o programa nuclear”, reclama o sérvio, para quem o governo Obama estaria agindo como “um elefante numa loja de louça” com a nova política.
“Como resultado, o Iran Human Rights Documentation Center, Freedom House, IFES e IRI tiveram seus pedidos de recursos rejeitados”, descreve em um email no início de janeiro de 2010.
A outra reunião de Popovic no NSC teria ocorrido às 17 horas do dia 27 de julho de 2011, conforme Popovic relatou à analista Reva Bhalla.
“Esses caras são impressionantes”, comentou, em um email entusiasmado, o analista da Stratfor para o leste europeu, Marko Papic. “Eles abrem usa lojinha em um país e tentam derrubar o governo. Quando bem usados são uma arma mais poderosa que um batalhão de combate da força aérea”.
Marko explica aos seus colegas da Stratfor que o Canvas – nas suas palavras, um grupo tipo “exporte-uma-revolução” – “ainda depende do financiamento dos EUA e basicamente roda o mundo tentando derrubar ditadores e governos autocráticos (aqueles de quem os Estados Unidos não gostam)”. O primeiro contato com o líder do grupo, que se tornaria sua fonte contumaz, se deu em 2007. “Desde então eles têm passado inteligência sobre a Venezuela, a Georgia, a Sérvia, etc”.
Em todos os emails, Popovic demonstra grande interesse em trocar informações com a Stratfor, a quem chama de “CIA de Austin”. Para isso, vale-se dos seus contatos entre ativistas em diferentes países. Além de manter relação com uma empresa do mesmo filão idológico, se estabelece uma proveitosa troca de informações. Por exemplo, em maio de 2008 Marko diz a ele que soube que a inteligência chinesa estaria considerando atacar a organização pelo seu trabalho com ativistas tibetanos.
“Isso já era esperado”, responde Srdja. Em 23 de maio de 2011, ele pede informações sobre a autonomia regional dos curdos no Iraque.
Venezuela
Um dos temas mais frequentes na conversa com analistas da Stratfor é a Venezuela; Srdja ajuda os analistas a entenderem o que a oposição está pensando. Toda a comunicação, escreve Marko Papic, é feita por um email seguro e criptografado. Além disso, em 2010, o líder do Canvas foi até a sede da Stratfor em Austin para dar um briefing sobre a situação venezuelana.
“Este ano vamos definitivamente aumentar nossas atividades na Venezuela”, explica o sérvio no email de apresentação da sua “Análise da situação na Venezuela”, em 12 de janeiro de 2010.
Para as eleições de setembro daquele ano, relata que “estamos em contato próximo com ativistas e pessoas que estão tentando ajudá-los”, pedindo que o analista não espalhe ou publique esta informação.
O documento, enviado por email, seria a “fundação da nossa análise do que planejamos fazer na Venezuela”. No dia seguinte, ele reitera em outro email: “Para explicar o plano de ação que enviamos, é um guia de como fazer uma revolução, obviamente”.
O documento, ao qual a Pública teve acesso, foi escrito no início de 2010 pelo “departamento analítico” da organização e relata, além dos pilares de suporte de Chávez, listando as principais instituições e organizações que servem de respaldo ao governo (entre elas, os militares, polícia, judiciário, setores nacionalizados da economia, professores e o conselho eleitoral), os principais líderes com potencial para formarem uma coalizão eficiente e seus “aliados potenciais” (entre eles, estudantes, a imprensa independente e internacional, sindicatos, a federação venezuelana de professores, o Rotary Club e a igreja católica).
A indicação do Canvas parece, no final, bem acertada. Entre os principais líderes da oposição que teriam capacidade de unificá-la estão Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e candidato de oposição nas eleições presidenciais de outubro pela coalizão Mesa de Unidade Democrática, além do prefeito do distrito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, e do ex-prefeito do município de Chacao, Leopoldo Lopez Mendoza.
Dois líderes estudantis, Alexandra Belandria, do grupo Cambio, e Yon Goicochea, do Movimiento Estudiantil Venezolano, também são listados.
O objetivo da estratégia, relata o documento, é “fornecer a base para um planejamento mais detalhado potencialmente realizado por atores interessados e pelo Canvas”. Esse plano “mais detalhado” seria desenvolvido posteriormente com “partes interessadas”.
Em outro email Popovic explica:“Quando alguém pede a nossa ajuda, como é o caso da Venezuela, nós normalmente perguntamos ‘como você faria?’ (…) Neste caso nós temos três campanhas: unificação da oposição, campanha para a eleição de setembro (…). Em circunstâncias NORMAIS, os ativistas vêm até nós e trabalham exatamente neste tipo de formato em um workshop. Nós apenas os guiamos, e por isso o plano acaba sendo tão eficiente, pois são os ativistas que os criam, é totalmente deles, ou seja, é autêntico. Nós apenas fornecemos as ferramentas”.
Mas, com a Venezuela, a coisa foi diferente, explica Popovic: “No caso da Venezuela, por causa do completo desastre que o lugar está, por causa da suspeita entre grupos de oposição e da desorganização, nós tivemos que fazer esta análise inicial. Se eles irão realizar os próximos passos depende deles, ou seja, se eles vão entender que por causa da falta de UNIDADE eles podem perder a corrida eleitoral antes mesmo que ela comece”.
Aqueles que receberam a análise (como o pessoal da Strartfor, por exemplo) aprenderam que segunda a lógica do Canvas os principais temas a serem explorados em uma campanha de oposição na Venezuela são:
– Crime e falta de segurança: “A situação deteriorou tremendamente e dramaticamente desde 2006. Motivo para mudança”
– Educação: “O governo está tomando conta do sistema educacional: os professores precisam ser atiçados. Eles vão ter que perder seus empregos ou se submeter! Eles precisam ser encorajados e haverá um risco. Nós temos que convencê-los de que os temos como alta esfera da sociedade; eles detêm uma responsabilidade que valorizamos muito. Os professores vão motivar os estudantes. Quem irá influenciá-los? Como nós vamos tocá-los?”
– Jovens: “A mensagem precisa ser dirigida para os jovens em geral, não só para os estudantes universitários”.
– Economia: “O petróleo é da Venezuela, não do governo, é o seu dinheiro, é o seu direito! Programas de bem-estar social”.
– Mulheres: “O que as mães querem? Controle da lei, a polícia agindo sob as autoridades locais. Nós iremos prover os recursos necessários para isso. Nós não queremos mais brutamontes”.
– Transporte: “Trabalhadores precisam conseguir chegar aos seus empregos. É o seu dinheiro. Nós precisamos exigir que o governo preste contas, e da maneira que está não conseguimos fazer isso”.
– Governo: “Redistribuição da riqueza, todos devem ter uma oportunidade”.
– “Há uma forte tendência presidencialista na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como podemos trabalhar com isso?”
No final do email, Popovic termina com uma crítica grosseira aos venezuelanos que procura articular: “Aliás, a cultura de segurança na Venezuela não existe. Eles são retardados e falam mais que a própria bunda. É uma piada completa”.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas negou que a organização elabore análises e planos de ação revolucionária sob encomenda. E foi bem menos entusiasta com relação ao seu “guia” elaborado para a Venezuela.
“Nós ensinamos as pessoas a analisarem e entenderem conflitos não-violentos – e durante o processo de aprendizagem pedimos a estudantes e participantes que utilizem as ferramentas que apresentam no curso. E nós também aprendemos com eles! Depois usamos o trabalho que eles realizaram e combinamos com informações públicas para criar estudos de caso”, afirmou.
“E isso é transformado em análises mais longas por dois estagiários. Usamos estas análises nas nossas pesquisas e compartilhamos com estudantes, ativistas, pesquisadores, professores, organizações e jornalistas com os quais cooperamos – que estão interessados em entender o fenômeno do poder popular”.
Questionado, Popovic também respondeu às criticas feitas por Hugo Chávez no seu programa de TV: “É uma fórmula bem conhecida… Por décadas os regimes autoritários de todo o mundo fazem acusações do tipo ‘revoluções exportadas’ como sendo a principal causa dos levantes em seus países. O movimento pró-democracia na Sérvia foi, claro, acusado de ser uma ‘ferramenta dos EUA’ pela TV estatal e por Milosevic, antes dos estudantes derrubarem o seu regime. Isso também aconteceu no Zimbabue, Bielorrusia, Irã…”
O ex-colega de movimento estudantil, Ivan Marovic – que ainda hoje dá palestras sobre como aconteceu a revolta contra Milosevic – concorda com ele: “É impossível exportar uma revolução. Eu sempre digo em minhas palestras que a coisa mais importante para uma mudança social bem-sucedida é ter a maioria da população ao seu lado. Se o presidente tem a maioria da população ao lado dele, nada vai acontecer”.
Marovic avalia, no entanto, que houve uma mudança de percepção do “braço de ONGs” dos governos ocidentais, em especial dos Estados Unidos, depois da revolução na Sérvia em 2000 e as “revoluções coloridas” que se seguiram no leste europeu.
“Um mês depois de derrubarmos o Milosevic, o New York Times publicou um artigo dizendo que quem realmente derrubou o Milosevic foi a assistência financeira americana. Eles estão aumentando o seu papel. E agora acreditam que a grana dos Estados Unidos pode derrubar um governo. Eles tentaram a mesma coisa na Bielorrusia, deram um monte de dinheiro para ONGs, e não funcionou”.
O pesquisador Mark Weisbrot concorda, em termos. É claro que nenhum grupo estrangeiro, ainda mais um grupo pequeno, pode causar uma revolução em um país. Para ele, não é o dinheiro do governo americano – seja através de ONGs pagas pelo National Security Council, pela USAID ou pelo Departamento de Estado – que faz a diferença.
“A elite venezuelana, por exemplo, não precisa deste dinheiro. O que estes grupos financiados pelos EUA, antigamente e hoje, agregam são duas coisas: uma é habilidade e o conhecimento necessário em subverter regimes. E a segunda coisa é que esse apoio tem um papel unificador. A oposição pode estar dividida e eles ajudam a oposição a se unificar”.
Para ele, muitas vezes o patrocínio americano tem uma “influência perniciosa” em movimentos legítimos. “Sempre tem pessoas grupos lutando pela democracia nestes países, com uma variedade de demandas, reforma agrária, proteções sociais, empregos… E o que acontece é que eles capitaneiam todo o movimento com muito dinheiro, inspirado pelas políticas que interessam aos EUA. Muitas vezes, os grupos democráticos que recebem o dinheiro acabam caindo em descrédito”.
PS do Viomundo: Desde 2007, quando estávamos em Washington, este site denuncia que a “promoção da democracia” é picaretagem financiada por dinheiro público ou privado dos Estados Unidos. Quem inventou o National Endowment for Democracy, o NED, foi o governo de Ronald Reagan, depois do escândalo do Irã-contras, em que os Estados Unidos venderam armas clandestinamente ao Irã e usaram o dinheiro para organizar a contrarrevolução na Nicarágua. A turma do Reagan foi esperta: descobriu que se todos estivessem envolvidos no esforço de promover os interesses do país no exterior, com dinheiro público, seria fácil aprovar financiamento no Congresso. Por isso o NED inclui institutos ligados ao Partido Democrata, ao Partido Republicano, a centrais sindicais e a associações empresariais.
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Sob suspeita

As evidências indicam a necessidade de uma investigação séria sobre o papel de setores da mídia no caso Cachoeira. Os indícios vão além do jogo político e apontam para conluios com o crime comum. De narradora dos acontecimentos a Veja tornou-se personagem, revelando um envolvimento nunca visto de forma tão escancarada na cena política brasileira.

(*) Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de junho de 2012.

O caso Demóstenes-Cachoeira seria apenas mais um escândalo político a estampar manchetes. Mas no meio do caminho, entre corrompidos e corruptores, tinha uma Veja. De narradora dos acontecimentos a revista semanal da Abril tornou-se personagem, revelando um envolvimento nunca visto de forma tão escancarada na cena política brasileira. Gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, não deixam dúvidas. O contraventor Carlinhos Cachoeira era mais do que fonte de informações. Seu relacionamento com o diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior, permitia a ele sugerir até a seção da revista em que determinadas notas de seu interesse deveriam ser estampadas.

O pouco que se revelou até aqui permite concluir que a publicação tornou-se instrumento de Cachoeira para remover do governo obstáculos aos seus objetivos. Um desses entraves estaria no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, e dificultava a atuação da Delta Construções, empresa que teria fortes ligações com o contraventor.

Segundo o jornalista Luis Nassif, a matéria da Veja sobre o Dnit saiu em 3 de junho de 2011. “A diretoria estava atrapalhando os negócios da Delta. Foi o mesmo modo de operação do episódio dos Correios –que daria origem ao chamado “mensalão”. Cachoeira dava os dados, Veja publicava e desalojava os adversários de Cachoeira.” Com isso cumpria também os objetivos de situar-se como vigilante de desmandos e fustigar os governos Lula e Dilma, pelos quais nunca demonstrou simpatia alguma. Basta lembrar a capa de maio de 2006 com Lula levando um pé no traseiro, juntando numa só imagem grosseria e desres­peito. Para não falar de outras, do ano anterior, instigando o “impeachment” do presidente da República.

O sucesso dos dois governos Lula e os altos índices de aprovação recebidos até agora pela presidenta Dilma Rousseff parecem ter exacerbado o furor da revista. A proximidade do diretor da sucursal de Brasília com Cachoeira, e deste com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), sempre elogiado por Veja, veio a calhar. Até surgirem as gravações da Polícia Federal levando a revista a um recolhimento político só quebrado em defesas tíbias de seu funcionário e do que ela chama de “liberdade de imprensa”.

Veja diz-se “enganada pela fonte”, argumento desmentido pelo delegado federal Matheus Mella Rodrigues, coordenador da Operação Monte Carlo. O policial mostrou que o jornalista Policarpo Junior sabia das relações de Demóstenes com Cachoeira, mas nunca as denunciou, protegendo “meliantes”, como resumiu com propriedade a revista CartaCapital.

Livre, pero no mucho
Segundo Veja, a “liberdade de imprensa” estaria ameaçada se o jornalista, ou seu patrão Roberto Civita, fosse chamado a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) aberta no Congresso Nacional para investigar o caso. Mas, na mesma edição em que supostamente põe o direito à informação acima de tudo, clama por um controle planetário da internet, agastada com a circulação de informações sobre seus descaminhos na rede.

A internet foi o principal meio de exposição dos detalhes da suspeita relação Cachoeira-Demóstenes-Veja, e uma enxurrada de expressões nada elogiosas levaram a revista ao topo dos assuntos mais mencionados no Twitter. Os principais veículos de alcance nacional silenciaram ou apoiaram a relação – exceção feita à Rede Record e à revista CartaCapital. Alguns, como O Globo, não titubearam em tomar as dores da Editora Abril. Por um de seus colunistas, Merval Pereira, o jornal isentou a revista de responsabilidades. Depois, em editorial, reagiu à comparação feita por CartaCapital entre o dono da Editora Abril e o magnata Rupert Murdoch, punido pela Justiça britânica pelo mau uso de seus veículos de comunicação no Reino Unido. A Folha de S.Paulo, também em editorial, aliou-se a Veja. Mas sua ombudsman, Suzana Singer, que tem a incumbência de criticar o desempenho do jornal, pelo menos levantou uma dúvida ao dizer que “não se sabe se algo comprometedor envolvendo a imprensa surgirá desse lamaçal”. Para lembrar em seguida que ao PT interessa com o caso Cachoeira empastelar o “mensalão” a ser julgado em breve, e conclui dizendo: “A imprensa não pode cair na armadilha de permitir que um escândalo anule o outro. Tem o dever de apurar tudo – mas sem se poupar. É hora de dar um exemplo de transparência”. Mas a cobertura da Folha das relações Cachoeira-Demóstenes-Veja limita-se a notas superficiais.

Intocável
A ideia de que o caso Cachoeira seria uma forma de desviar as atenções sobre a campanha pelo julgamento dos acusados no caso do “mensalão” foi alardeada pela mídia. E utilizada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para se livrar da acusação de ter sido negligente. A PF encaminhou a Gurgel a denúncia sobre as relações promíscuas entre Cachoeira e Demóstenes em 2009. Se ele tivesse dado andamento à denúncia, o processo se tornaria público e poderia ter comprometido no ano seguinte a eleição de Demóstenes ao Senado, de Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás e de outros políticos suspeitos de servir a Cachoeira.

Em vez de explicar por que segurou o processo, Gurgel respondeu às acusações sob a alegação de que partiam dos envolvidos no processo do “mensalão”, temerosos diante da iminência do julgamento no qual ele será o acusador. A CPMI começou em maio e tem seis meses para concluir as apurações. Ainda não havia mostrado, porém, o mesmo ânimo convocatório em relação aos governadores envolvidos com a Delta Construções e muito menos ao jornalista de Veja e seu patrão. Os governadores, por acordos político-partidários; o jornalista e o empresário, não se sabe bem as razões, embora possam ser formuladas hipóteses.

Uma delas é a de que o maior partido da base governista, o PMDB, estaria sendo sensível ao lobby da mídia por uma blindagem. Com uma CPMI em banho-maria, o partido não seria muito arranhado com a exposição de políticos peemedebistas a investigações. E o PT, concorrente na disputa por espaço no governo, não capitalizaria demais os resultados. A concentração em poucos e poderosos grupos nacionais e transnacionais deu à mídia um poder nunca antes alcançado, muitas vezes superior aos próprios poderes republicanos. Assim, governos e outras instituições públicas tornam-se reféns dos meios de comunicação e temem enfrentá-los.

Apenas em três ocasiões de nossa história veículos de comunicação foram alvo de investigações por parte de CPIs. Em 1953, o dono do Última Hora, Samuel Wainer, sugeriu ao presidente Getúlio Vargas que seu jornal fosse investigado quanto às operações de crédito mantidas com o Banco do Brasil, como lembra o professor Venício Lima, da Universidade de Brasília. Dez anos depois, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) foi acusado de ter ligações com a CIA e receber recursos dos Estados Unidos para interferir nas eleições brasileiras. O instituto chegou a alugar por três meses, num período pré-eleitoral, o jornal A Noite do Rio, para colocá-lo a serviço da oposição ao presidente João Goulart. E em 1966 foi aberta investigação do acordo entre as Organizações Globo e o grupo de mídia estadunidense Time-Life. Uma operação de US$ 6 milhões, em benefício da TV Globo, acabou com o império dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Testemunha de defesa
Há uma outra inquirição de jornalista que não se enquadra entre os casos mencionados, embora seja altamente significativa para os dias de hoje. Trata-se da ida a uma Comissão Parlamentar de Inquérito, em 2005, do mesmo Policarpo Junior. Na ocasião, o chefe de organização criminosa se dizia vítima de chantagem por parte de um deputado carioca que estaria exigindo propina para não colocar seu nome no relatório final de uma CPI instalada na Assembleia Legislativa do Rio. Policarpo testemunhou em defesa do bicheiro e nenhum jornal nem a ABI alegaram tratar-se de uma intimidação à imprensa.

Uma das explicações para essa baixa exposição de jornais e jornalistas a investigações está no poder de interferência dos grupos midiáticos na política eleitoral. Exemplo clássico é a frase da viúva do proprietário das Organizações Globo referindo-se ao governo Collor: “O Roberto colocou ele na Presidência e depois tirou. Durou pouco. Ele se enganou”, disse com candura dona Lily no lançamento do seu livro Roberto & Lily, em 2005. Mas essa não foi uma ação isolada. Para derrotar Lula em 1989, Globo e Veja faziam dobradinha perfeita, como agora. Demonizavam Lula e exaltavam o jovem governador de Alagoas, “caçador de marajás”.

Essa articulação tornou-se hoje mais orgânica. A presidenta da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que representa os proprietários de veículos, Judith Brito, assumiu o papel de oposição ao governo Lula. De modo mais discreto, mas não menos eficiente, trabalha o Instituto Millenium, que reúne articulistas, jornalistas e patrões da imprensa. E realiza eventos em que os convidados aliam-se ao que há de mais conservador na sociedade para afinar suas linhas de cobertura. Em um deles estavam Roberto Civita (Abril), Otavio Frias Filho (Folha) e Roberto Irineu Marinho (Globo). Vários colaboradores, exibidos no site do instituto, escrevem e falam contra as cotas raciais nas universidades, criticam a política econômica dos governos Lula e Dilma, seja qual for, louvam o governo Fernando Henrique Cardoso, discordam da atual política externa brasileira e fizeram campanha contra a criação da CPMI do Cachoeira. São ações orquestradas que lembram as do Ibad, antes mencionado.

As evidências atuais indicam a necessidade de uma investigação séria sobre o papel de setores da mídia no caso Cachoeira. Os indícios vão além do jogo político e apontam para conluios com o crime comum. No entanto, até o momento, a CPMI não mostrou disposição para enfrentar o poder da mídia, que, quando acuada, conta com a defesa não apenas dos proprietários como também de parte de seus empregados. Cabe lembrar a observação frequente do jornalista Mino Carta sobre a peculiaridade brasileira de jornalista chamar patrão de colega. Com isso diluem-se interesses de classe e uma difusa “liberdade de imprensa” é utilizada para encobrir contatos altamente suspeitos.

Até entidades respeitáveis como a Associação Brasileira de Imprensa, por seu presidente, Maurício Azêdo, confundem as coisas. Em depoimento ao programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, Azêdo não admite a ida de jornalistas à CPMI para prestar depoimentos, sob a alegação de intimidação ao trabalho jornalístico, mas condena a promiscuidade de alguns profissionais com fontes próximas ou ligadas ao crime. Com isso dá ao jornalista uma imunidade que nenhum outro cidadão tem.

Nesse mesmo programa, o professor Venício Lima ressaltou o impacto do caso das escutas ilegais promovidas pelo jornal News of the World sobre as relações mídia-sociedade na Inglaterra. “Levou Murdoch (o dono do jornal) e seus jornalistas a depor não só na Comissão de Esportes, Mídia e Cultura da Câmara dos Comuns como na Comissão Leveson, que tem caráter de inquérito policial.” Nada disso ameaçou a liberdade da imprensa britânica. Aqui, apesar da resistência com forte apelo corporativo da mídia e de parte dos seus empregados, vozes importantes lembram que ninguém está imune a convocações feitas pelo Congresso Nacional para prestar esclarecimentos.

À Record News, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), foi direto ao ponto: “Todos devem ser investigados no setor público, privado e na imprensa. Sem paixões e sem arroubos. Nós vamos descobrir muitas coisas quando forem feitas as quebras de sigilo – o fiscal, por exemplo. Devemos apoiar sempre a liberdade de expressão. Mas não podemos confundi-la com uma organização criminosa. Para o bem da sociedade e da própria liberdade de expressão.”

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.