segunda-feira, 23 de abril de 2012

Como a Goldman Sachs capturou a Europa



O golpe da Goldman Sachs que falhou na América está quase a ter êxito na Europa – um salvamento permanente, irrevogável e incontestável para os bancos que é financiado pelos contribuintes.

Em Setembro de 2008 Henry Paulson, antigo presidente da Goldman Sachs, conseguiu extorquir do Congresso um salvamento bancário de US$700 mil milhões. Mas para ter êxito nisso ele precisou cair de joelhos e ameaçar de colapso todo o sistema financeiro global e ainda a imposição de lei marcial. E o salvamento era um caso pontual a ser efectuado só uma vez. O pedido de Paulson de um fundo de salvamento permanente –Troubled Asset Relief Program ou TARP – teve a oposição do Congresso e acabou por ser rejeitado.

Em Dezembro de 2011, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, antigo vice-presidente da Goldman Sachs Europe, conseguiu aprovar um salvamento de 500 mil milhões de euros para bancos europeus sem pedir permissão a ninguém. E em Janeiro de 2012, um programa de financiamento permanente de resgates, chamado Mecanismo de Estabilidade Europeia (MEE), foi aprovado na calada da noite mal sendo mencionado pela imprensa. O MEE impõe uma dívida ilimitada a governos membros da UE, colocando os contribuintes no anzol para seja o que for que venha a ser exigido pelos eurocratas supervisores do MEE.

O golpe dos banqueiros triunfou na Europa aparentemente sem um combate. O MEE é encorajado pelos governos da eurozona, pelos seus credores e igualmente pelo "mercado", porque significa que investidores continuarão a comprar dívida soberana. Tudo é sacrificado aos pedidos dos credores, porque de que outro lugar o dinheiro pode ser obtido para manter a flutuar as dividas paralisantes dos governos da eurozona?

Há uma outra alternativa à escravidão da dívida para com os bancos. Mas, em primeiro lugar, um olhar mais atento ao ventre abominável do MEE e à silenciosa tomada do BCE pelo Goldman.

O lado escuro do MEE

O MEE é um organismo de resgate permanente destinado a substituir tanto o European Financial Stability Facility como o European Financial Stabilization Mechanism, ambos temporários, assim que Estados Membros representando 90% dos compromissos de capital o houverem ratificado, o que se espera acontecer em Julho de 2012. Num vídeo do YouTube de Dezembro de 2011 intitulado "A chocante verdade do iminente colapso da UE" , apresentado originalmente em alemão, faz revelações sobre o MEE que vale a pena aqui citar extensamente. O vídeo afirma:
A UE está a planear um novo tratado chamado Mecanismo Europeu de Estabilidade, ou MEE: um tratado de dívida. ... O stock de capital autorizado será de 700 mil milhões de euros. Pergunta: por que 700 mil milhões? [Provável resposta: ele simplesmente imitou os US$700 mil milhões que o Congresso dos EUA comprou em 2009].

[Artigo 9º] "... Membros do MEE por este instrumento irrevogavelmente e incondicionalmente comprometem-se a pagar a pedido qualquer chamada de capital que se lhes faça ... dentro de sete dias após a recepção do pedido". ... Se o MEE precisar dinheiro, temos sete dias para pagar. ... Mas o que significa "irrevogavelmente e incondicionalmente"? O que acontece se tivermos um novo parlamento que não queira transferir dinheiro para o MEE? ...

[Artigo 10º] "O Conselho de Governadores pode decidir mudar o capital autorizado e emendar o Artigo 8 ... correspondentemente". Pergunta: ... 700 mil milhões é só o começo? O MEE pode aumentar o fundo tanto quanto quiser, em qualquer momento que quiser? E a nós então seria exigido sob o Artigo 9 que pagássemos irrevogavelmente e incondicionalmente?

[Artigo 27, linhas 2-3]: "O MEE, sua propriedade, recursos financeiros e activos ... desfrutará de imunidade em relação a toda forma de processo judicial ..." Pergunta: Então o programa MEE pode processar-nos, mas nós não podemos contestá-lo em tribunal?

[Artigo 27, linha 4]: "A propriedade, recursos financeiros e activos do MEE ... será imune a investigação, requisição, confisco, expropriação ou qualquer outra forma de captura, tomada ou arresto por acção executiva, judicial, administrativa ou legislativa". Pergunta: Isto significa que nem os nossos governos nem os nossos legisladores, nem qualquer das nossas leis democráticas têm qualquer efeito sobre a organização do MEE? Isto é um tratado bastante poderoso!

[Artigo 30]: "Governadores, governadores suplentes, directores, directores suplentes, o director administrativo e os membros da equipe serão imunes a processos legais em relação a actos por eles desempenhados ... e desfrutarão de inviolabilidade em relação aos seus papéis e documentos oficiais". Pergunta: Então alguém envolvido no MEE está fora do anzol? Eles não podem ser responsabilizados por qualquer coisa? ... O tratado estabelece uma nova organização intergovernamental para a qual nos é exigido transferir activos ilimitados dentro de sete dias a simples pedido, a uma organização que pode processar-nos mas é imune a todas as formas de processo e cujos administradores desfrutam da mesma imunidade. Não há revisores independentes e não existem leis a aplicar? Os governos não podem efectuar acções contra ele? Orçamentos nacionais nas mãos de uma única organização inter-governamental não eleita? Será isso o futuro da Europa? Será isso a nova UE – uma Europa destituída de democracias soberanas?
O polvo Goldman captura o BCE

Em Novembro último, sem fanfarras e mal notado pela imprensa, Mario Draghi, o antigo executivo da Goldman, substituiu Jean-Claude Trichet como governador do BCE. Draghi não perdeu tempo a fazer para os bancos o que o BCE se havia recusado a fazer para os seus governos membros – despejar dinheiro sobre eles a taxas muito baratas. O bloguista francês Simon Thorpe informa:
Em 21 de Dezembro, o BCE "emprestou" 489 mil milhões de euros a bancos europeus à taxa extremamente generosa de apenas 1% em três anos. Digo "emprestou", mas na realidade eles apenas puseram as impressoras a funcionar. O BCE não tem esse dinheiro para emprestar. É Quantitative Easing mais uma vez.

O dinheiro foi devorado de forma virtualmente instantânea por um total de 523 bancos. É a loucura completa. O BCE espera que os bancos venham a fazer algo útil com ele – como emprestar o dinheiro aos gregos, os quais estão actualmente a pagar 18% nos mercados de títulos para obterem dinheiro. Mas não há absolutamente nenhumas condições adstritas. Se os bancos decidirem pagar bónus com o dinheiro, tudo bem. Ou podem simplesmente transferir todo o dinheiro para paraísos fiscais.
A juros de 18%, a dívida duplica em apenas quatro anos. É este oneroso fardo de juros, não a própria dívida, que está a paralisar a Grécia e outros países devedores. Thorpe propõe a solução óbvia:
Por que não emprestar o dinheiro directamente para o governo grego? Ou para o governo português, actualmente tendo de contrai empréstimos a 11,9%? Ou ao governo húngaro, actualmente a pagar 8,53%? Ou ao governo irlandês agora a pagar 8,51%? Ou ao governo italiano, o qual está a pagar 7,06%?
A objecção de reserva àquela alternativa é que o Artigo 123 do Tratado de Lisboa impede o BCE de emprestar a governos. Mas Thorpe raciocina:
O meu entendimento é que o Artigo 123 está ali para impedir governos eleitos de abusarem de Bancos Centrais ordenando-lhes que imprimam dinheiro para financiar gastos excessivos. Essa, dizem-nos, é a razão porque o BCE tem de ser independente de governos. OK. Mas o que temos agora é um milhão de vezes pior. O BCE está agora totalmente nas mãos do sector bancário. "Queremos 500 milhões de dinheiro realmente barato!!" dizem eles. OK, não há problema. Mário está aqui para acertar isso. E não é preciso consultar ninguém. No momento em que o BCE fez o anúncio, o dinheiro já havia desaparecido.
Se o BCE estivesse a trabalhar pelo menos sob a supervisão de governos eleitos teríamos alguma influência quando elegemos aqueles governos. Mas o grupo que agora tem as suas mãos encardidas nos instrumentos de poder agora está totalmente fora de controle.

A Goldman Sachs e os tecnocratas financeiros apossaram-se do navio europeu. A democracia saiu pela janela, tudo em nome da manutenção do banco central independente de "abusos" de governos. Mas o governo é o povo – ou deveria ser. Um governo eleito democraticamente representa o povo. Os europeus estão a ser ludibriados para abrir mão da sua querida democracia em favor de um perigoso banco de piratas financeiros, e o resto do mundo não fica muito atrás.

Ao invés de ratificar o draconiano tratado MEE [1] , os europeus seriam mais avisados se revertessem o artigo 123 do tratado de Lisboa. Então o BCE poderia emitir crédito directamente para os seus governos membros. Alternativamente, governos da eurozona poderia restabelecer sua soberania económica pela ressurreição dos seus bancos centrais de propriedade pública e utilizá-los para emitir o crédito do país em benefício do país, efectivamente isento de juro. Isto não é uma ideia nova mas historicamente tem sido utilizada com muito bom efeito, na Austrália por exemplo através do Commonwealth Bank of Australia e no Canadá através do Bank of Canada .

Hoje a emissão de dinheiro e crédito tornou-se direito privado de rentistas vampiros, os quais estão a utilizá-lo para extrair o sangue vital de economias. Este direito precisa ser devolvido a governos soberanos. O crédito deveria ser um serviço público (public utility), distribuído e administrado para o benefício do povo.

[1] O parlamento português ratificou o Tratado do MEE em 13/Abril/2012, com os votos favoráveis do PS, PSD e CDS.

Brasil precisa reduzir dependência de fertilizantes do exterior, diz Dilma

Presidente Dilma Rousseff participou de cerimônia em Sergipe.
Petrobras arrendou à Vale exploração de potássio para produzir fertilizantes.

Flávio Antunes e Priscilla Mendes Do G1 SE e do G1, em Brasília
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A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia em Rosário do Catete (SE) (Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência)A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia em
Rosário do Catete (SE) (Foto: Roberto Stuckert Filho
/ Presidência)
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (23) que o Brasil precisa reduzir a dependência que a indústria nacional tem em relação aos fertilizantes produzidos no exterior. Segundo ela, com isso o custo da produção brasileira de alimentos poderia ser barateado.
"Um país que tem potássio, que tem tecnologia para transformar carnalita em potássio, não pode depender da forma como dependemos em 90% para o uso do potássio de países do exterior. [Com o projeto] podemos cada vez mais ser mais produtivos e mais competitivos e barateando o custo da nossa produção. Barateando para quem? Para a mesa do povo", afirmou Dilma.
A presidente participou de cerimônia de contrato de arrendamento de reservas de potássio entre a Petrobras e a Vale. A petroleira arrendou à mineradora, por prazo de 30 anos, o direito de explorar potássio em uma região que também possui petróleo. Esse projeto – chamado Carnalita – é um dos principais tocados pela Vale destinado à produção de fertilizantes. Carnalita é um mineral a partir do qual é produzido o potássio, usado em fertilizantes.
"Hoje alimento tem a ver com energia e fertilizante. Nós somos importadores de fertilizantes, somos dependentes de fertilizantes, mas não devíamos ser porque somos um país com recursos naturais diversificados. [...] Esse momento é estratégico para o país porque fertilizante é algo crucial para a nossa segurança alimentar, para a capacidade de abastecer nossa agricultura", completou a presidente.
Segundo Dilma, o projeto Carnalita antecipa "a necessidade de o país ter cada vez mais fontes de fornecimento". "E é verdade que temos um das maiores reservas do mundo no Amazonas, mas também é verdade que essa reserva tem vários desafios tecnológicos, portanto a Carnalita é a demonstração de que estamos dando um passo aqui e agora."
70% dos fertilizantes são importados
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, que discursou no evento antes de Dilma, afirmou que o Brasil importa 70% dos fertilizantes que consome e 90% do potássio.
"A oferta de potássio vem crescendo, mas não consegue acompanhar o ritmo de crescimento do consumo", disse Ferreira. Com o projeto Carnalita, a Vale prevê duplicar a quantidade de potássio produzida no país, passando a 1,2 milhões de toneladas ao ano. Ainda de acordo com Ferreira, o projeto vai criar 4 mil empregos diretos na fase de construção e outros 700 diretos durante a operação.
O governador de Sergipe, Marcelo Déda, ao lado da presidente Dilma Rousseff e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante cerimônia em Rosário do Catete (SE) (Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência)O governador de Sergipe, Marcelo Déda, ao lado da presidente Dilma Rousseff e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante cerimônia em Rosário do Catete (SE) (Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência)
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, falou antes de Dilma e afirmou que Vale e Petrobras precisam ajudar o governo para o crescimento da produção de fertilizantes no país.
"Nós temos ainda um estoque de terras agricultáveis considerável, mas não podemos avançar nele repentinamente para produzir os grãos. Precisamos aumentar a produtividade, mas sem fertilizantes essa produtividade não se alcançará. Seria, portanto, uma estratégica quimérica, tentativa apenas. Precisamos que a Vale se junte a Petrobras, ao governo brasileiro como um todo [...], para que este objetivo seja alcançado e alcançado o mais depressa possível."
Segundo o governador de Sergipe, Marco Déda, o projeto vai “alavancar” a indústria de Sergipe. "Sergipe é hoje um pólo de fertilizantes. É a alavancagem que esse projeto vai trazer na indústria de Sergipe consolidando o estado como produtor de fertilizantes no momento em que agricultura brasileira assume liderança internacional."

De Lula a Dilma, os mesmos 5% do contra

publicada segunda-feira, 23/04/2012 às 12:05 e atualizada segunda-feira, 23/04/2012 às 12:13


Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
O número que mais me chamou a atenção no Datafolha divulgado domingo, em que Dilma bate mais um recorde de aprovação e Lula aparece como o favorito para as eleições de 2014, foi o índice de “ruim e péssimo” registrado pela pesquisa: 5%.
Pode chover ou fazer sol, a bolsa e o dólar subirem ou caírem, a economia ir bem ou mal, o país melhorar ou piorar, que este contingente de insatisfeitos com o governo não muda de tamanho.
Dentro da margem de erro, um ponto a mais ou a menos, a turma do contra permanece imutável há anos. Podem até mudar seus integrantes, mas o contingente é o mesmo.
Desde o segundo mandato de Lula, me chama a atenção a permanência deste índice de 5% de “ruim e péssimo”, ou seja dos que desaprovam o governo.
Na primeira vez em que escrevi sobre este assunto, já faz algum tempo, por mera curiosidade jornalística, sugeri que se fizesse uma pesquisa sobre o perfil destes insatisfeitos, saber as razões deles, entender o pensamento de quem acha tudo ruim ou péssimo.
Para quê… Por ignorância ou má-fé, ou as duas coisas juntas, alguns blogueiros neuróticos anônimos me acusaram de estar chamando a a polícia para identificar os que eram contra o governo e apresentá-los à execração pública como os nazistas fizeram com os judeus.
Confundiram, propositadamente, investigação científica, como fazem as pesquisas de opinião, com investigação policial para “perseguir e banir” os que não apoiavam o governo.
Açulados por estes blogueiros, muitos seguidores das seitas internéticas invadiram o Balaio repetindo as mesmas sandices.
A pesquisa até hoje não foi feita por nenhum instituto, mas estou desconfiado de que há uma relação direta entre estes 5% e as pessoas que se informam apenas pelo que lêem nos principais jornais e nas maiores revistas do país.

Fiz umas contas e cheguei à conclusão de que o contingente é mais ou menos o mesmo. Os 5% do contra representam uns 10 milhões de brasileiros. Dez milhões é aproximadamente o total de exemplares destes jornais e revistas que circulam durante toda uma semana.
Como a imprensa não fala da imprensa, e parece haver um pacto entre os donos da grande mídia reunidos no Instituto Millenium, raramente um veículo critica ou sequer cita o outro.
O silêncio foi quebrado esta semana pela revista “Época”, que citou nominalmente a sua concorrente “Veja”, em meio à matéria “”Fui afastado pela negociata de uma enpreiteira e um contraventor”, uma entrevista com o ex-diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, demitido durante a crise que levou à demissão do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, no ano passado.
Trecho da reportagem de Murilo Ramos:
“O afastamento de Pagot, bombardeado por acusações de cobrar propinas, foi comemorado pela turma de Cachoeira. Quase dois meses depois de ter ouvido de Cachoeira que a imprensa recebera material contra a diretoria do Dnit, Abreu (diretor da empreteira Delta) telefonou para o bicheiro. Em tom de galhofa, diz durante a conversa que a presidente Dilma Rousseff ordenara ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, a afastar todos os citados em reportagem publicada pela revista Veja. Naquele momento, Abreu e Cachoeira dividiram elogios entre eles e enalteceram a força de sua associação”.
Associação para quê? Entre outras coisas, certamente, para plantar notícias na imprensa. De fato, foi uma reportagem da revista “Veja” que detonou a cúpula do Ministério dos Transportes.
Em sua defesa prévia, a maior revista semanal do país, também na última dição, publica uma espécie de “vacina” sobre as denúncias de Pagot. No meio da matéria “O primeiro round”, que trata da CPI do Cachoeira, a revista escreve:
“Na semana passada, Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit demitido no bojo do episódio que levou à queda do ministro Alfredo Nascimento, se disse vítima de uma trama que teria sido tecida contra ele exatamente por ter oferecido obstáculos aos interesses da Delta no órgão. Estranha linha de defedsa. Foi na gestão de Pagot que a Delta mais do que dobrou seu faturamento em contratos com o Dnit, alcançando 658 milhões de reais em 2010″.
Como escrevi aqui na segunda-feira passada, a imprensa está se empenhando em transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta, trocando o protagonismo de Demóstenes Torres e seu amigo Cachoeira por Fernando Cavendish, dono da Delta.
Alguns leitores discordaram da minha análise e sugeriram que a CPI do Cachoeira, já chamada “do submundo” ou de “todo mundo”, seja também transformada na CPI da Mídia, o distinto quarto poder que pode condenar livremente todos os outros e se acha inimputável como os índios e as crianças.
Afinal, se a presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith Pinto, já afirmou publicamente que a imprensa foi obrigada a assumir o papel de oposição ao governo em razão da fragilidade dos partidos, seria bom investigar se, além de divulgar fatos, a imprensa não estaria também criando os próprios fatos, em defesa de interesses políticos e econômicos de uns em detrimento de outros.
Concordo neste ponto com os colunistas da chamada grande imprensa: agora tem que investigar todo mundo, inclusive os bravos homens do “jornalismo investigativo” e seus honoráveis veículos.

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Aécio Neves, Bresser e a privataria tucana

publicada segunda-feira, 23/04/2012 às 13:58 e atualizada segunda-feira, 23/04/2012 às 13:52


Por Altamiro Borges, no Blog do Miro
A Folha de hoje traz dois artigos que tratam das privatizações. Aécio Neves, o provável presidenciável tucano em 2014, defende de forma apaixonada a venda das estatais no reinado de FHC. Já o economista Bresser Pereira, que recentemente se desfiliou do PSDB, elogia a atitude corajosa da presidenta Cristina Kirchner de reestatizar a empresa de petróleo da Argentina, a YPF.
Enquanto o primeiro revela toda a sua mentalidade colonizada, o segundo demonstra preocupação com a questão da soberania nacional. Para o senador mineiro, a entrega do patrimônio público inseriu o Brasil no paraíso da globalização neoliberal. “Há 250 milhões de celulares em uso no país”, festeja, bajulando FHC pela “coragem de desencadear o processo de privatização da telefonia”.
Tentativa de castrar o debate
Ele nada fala sobre os péssimos serviços prestados pelas teles, a maioria multinacionais, hoje recordistas de queixas no Procon. Ele também não critica estas empresas, que reduziram os investimentos no país e aumentaram as remessas de lucros para salvar suas matrizes na falida Europa. O artigo serve apenas para elogiar “a coragem” do PSDB e para demonizar os críticos da privatização.
Maroto, o mineiro conclui o seu artigo afirmando que “as restrições ideológicas à privatização são, hoje, página virada na história do país. Vide, por exemplo, as concessões iniciadas, ainda que tardiamente, para a administração dos aeroportos. Incoerências à parte, resultados como esse deveriam inspirar quem tem responsabilidade de governar”. Pura conversa mole!
O debate sobre o tema não está encerrado. Além de analisar os prejuízos causados pela entrega de estatais em áreas estratégicas, é preciso apurar a roubalheira que contaminou todo o processo. O livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro, dá importantes pistas sobre a lavagem do dinheiro da corrupção. Aécio Neves teme que este debate seja retomado no Brasil.
“A Argentina tem razão”
Na Argentina, a presidenta Cristina Kirchner teve a coragem de reabrir a ferida. Diante da rapinagem da Repsol, que não perfurou um poço de petróleo nos últimos anos e aumentou a remessa de lucros para a Espanha, o governo do país vizinho reestatizou este setor estratégico. Bresser Pereira, no extremo oposto ao de Aécio Neves, não tem dúvida de que “a Argentina tem razão”.
Apesar da gritaria do governo espanhol, dos rentistas e de “alguns jornalistas”, o ex-tucano é taxativo. “Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola”.

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Contradições da sexta economia do mundo

publicada segunda-feira, 02/01/2012 às 10:43 e atualizada terça-feira, 03/01/2012 às 19:33


Por Igor Felippe Santos
O maniqueísmo domina as análises sobre o Brasil e o desempenho do governo Lula/Dilma. De um lado, alguns avaliam que o governo é responsável por dádivas de Deus. Do outro, não fez nada que preste e merece as chamas do inferno. A leitura do estudo da consultoria britânica, especializada em análises econômicas, de que o Brasil ocupará o posto de sexta maior economia do mundo seguiu o mesmo padrão.
Nos últimos oito anos, o Brasil teve um crescimento baixo em comparação com os outros países emergentes, mas bem maior do que no sombrio período do FHC. No entanto, o principal fator para o Brasil chegar ao posto foi a crise capitalista de 2008, que derrubou países centrais.
O fortalecimento do mercado interno, com a valorização do salário mínimo, políticas de crédito e políticas sociais também foi importante, mas não central para o país se tornar a sexta economia do mundo. Isso acontece porque o mercado interno brasileiro, embora fortalecido, não está no centro da dinâmica da nossa economia, que é dependente do mercado externo.
Quem sustenta a economia brasileira é a exportação de matéria-prima mineral e agrícola, controlada por empresas transnacionais e do mercado financeiro que não paga impostos na exportação (por causa da Lei Kandir, uma herança maldita do governo FHC mantida até hoje), para China e outros países centrais.
Por isso, a “grande” vantagem comparativa do Brasil na disputa capitalista internacional é o baixo valor de troca da força de trabalho (nossos trabalhadores têm um nível de renda menor que dos países centrais, assim são superexplorados), a exploração de recursos agrícolas e minerais e o desrespeito a direitos sociais básicos.
O Brasil é uma formação social fundada na desigualdade social e violenta concentração de renda, riqueza e capital. Isso é o paraíso para as empresas transnacionais. Quanto maior essa concentração (viável pela falta de um sistema tributário progressivo, que taxe mais que tem mais e movimenta mais dinheiro), maior as possibilidades de investimentos e lucros.
Um dos elementos que garante essas condições é o pagamento de salários baixos. Segundo dados preliminares do Censo divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria dos postos de trabalho criados a partir de 2000 foi ocupada por trabalhadores com remuneração de até dois salários mínimos (igual a R$ 1.244 com o novo salário mínimo). Essa faixa de remuneração representa 63% do total em 2010.
Em relação à exploração dos recursos naturais, o país passa por uma ofensiva do capital estrangeiro, para controlar as nossas terras e a produção agrícola. A desnacionalização das terras e da agricultura chega a níveis inéditos, enquanto o governo não tem instrumentos para mensurar e controlar. De 2002 a 2008, empresas do agronegócio trouxeram uma avalanche de investimentos estrangeiros, que somaram US$ 46,91 bilhões, de acordo com dados do Banco Central.
Ao mesmo tempo, enquanto exporta matéria-prima mineral, para que os países centrais produzam máquinas, equipamentos e produtos eletrônicos, o Brasil passa por um grave processo de desindustrialização. Uma moção do Congresso Brasileiro de Economia, realizado em setembro, apontou que “o Brasil não pode continuar com o atual processo de aumento da dependência da importação de produtos industrializados. A atual substituição da produção interna por produtos importados ocorre antes que o país tenha alcançado o domínio dos processos tecnológicos estratégicos para assegurar a sustentabilidade de seu desenvolvimento soberano”.
Por fim, os direitos sociais dos brasileiros são desrespeitados, o que abre a perspectiva de investimentos do grande capital em empresas do setor de serviços e, ao mesmo tempo, “libera” o Estado de aplicar os recursos dos impostos nessas áreas para pagar os juros, amortizações e os títulos da dívida pública, que são controladas por bancos brasileiros e estrangeiros e empresas transnacionais. Do orçamento geral da União, apenas em 2010, R$ 635 bilhões (que representa cerca de 45% do montante total do orçamento) para o pagamento de juros, amortizações e o refinanciamento da dívida pública brasileira.
O que o Brasil oferece ao mundo, ou melhor, às empresas capitalistas transnacionais são trabalhadores mal remunerados, condições para concentração de renda e riqueza para novos investimentos, terras (além de sol e água) para a produção de commodities para exportação, minérios sem valor agregado para os países centrais e mercado para investimentos no setor de serviços.
Aplaudir com entusiamo e sem fazer necessárias ponderações ao 6º lugar do Brasil na economia mundial é comemorar a consolidação e expansão de um modelo econômico que se sustenta nas más condições de vida do povo brasileiro, na desigualdade de riqueza/renda e na desnacionalização/desindustrialização da economia, que fazem do Brasil o paraísos das empresas transnacionais.

Só valerá a pena para o povo brasileiro continuar crescendo na lista das maiores economias do mundo se foram realizadas mudanças estruturais – que possam garantir melhores condições de vida a toda a população, com maiores salários e a efetivação dos direitos sociais, e a independência econômica, industrial e tecnológica em relação às empresas estrangeiras – em torno de um projeto popular para o desenvolvimento do Brasil. Que o povo brasileiro se organize e lute para construí-lo em 2012!
Igor Felippe Santos é jornalista, editor da Página do MST, do conselho político do jornal Brasil de Fato e do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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Nós e a Argentina

publicada sexta-feira, 20/04/2012 às 10:03 e atualizada sexta-feira, 20/04/2012 às 10:03


Por Paulo Kliass, na Carta Maior
A divulgação da decisão da presidenta Cristina Kirchner, a respeito da nacionalização da empresa petroleira YPF, reacendeu ódios e paixões sobre um tema bastante sensível. As famosas relações entre o setor público e o setor privado, as supostas vocações naturais de um e de outro ente para atuar em áreas estratégicas. E, de quebra, ainda contribuiu para acirrar a polarização das posições no debate sobre desenvolvimento nacional e economia.

Antes de mais nada, é importante registrar o papel decisivo que tem sido desempenhado pelos últimos governos da Argentina em termos de opções de políticas públicas. Entre outros aspectos, destaca-se o elemento pedagógico das decisões adotadas, em geral recebidas com desconfiança e surpresa pela grande imprensa, por estarem justamente indo na contracorrente de tudo aquilo que recomendaria a “boa norma” ditada pelas elites locais e internacionais.
Moratória por lá e nada por aqui
Logo no início do mandato do presidente Nestor Kirchner (2003 a 2007), aquele país estava com suas atividades econômicas bastante comprometidas e uma das razões era o enorme peso representado pelas obrigações financeiras de sua dívida externa. Muito antes de tombarem por terra os pressupostos do neoliberalismo, Kirchner aprofundou a postura mais rigorosa no processo de negociação em curso com os credores e decretou a moratória. Como solução conciliadora, apresentou uma proposta de redução de 70% no valor total devido.
Mas do lado de cá do Rio Paraná, o comando da política econômica estava nas mãos da dupla dinâmica Antonio Palocci e Henrique Meirelles, legítimos representantes dos interesses da banca internacional. Assim, foram eles que se encarregaram, à época, de persuadir o Presidente Lula a permanecer calado e não oferecer nenhuma solidariedade àquele gesto, considerado como “populista e irresponsável”, do homólogo de Mercosul.

Esse difícil momento foi superado e a Argentina ofereceu aos países em desenvolvimento e ao mundo em geral uma verdadeira lição de como a economia e a política podem e devem andar juntas. E de como, em alguns momentos, é necessário ao Chefe de Estado ousar para implementar mudanças efetivas. O clima de catastrofismo reinante na imprensa local e internacional era pautado, como sempre, pelos interesses do capital financeiro internacional. Decisão jurássica, postura inconseqüente, calote irresponsável e outros qualificativos asseguravam que a Argentina sairia isolada no cenário internacional, caso insistisse na estratégia da renegociação mais dura, que era apresentada como um verdadeiro suicídio econômico, político e diplomático.
Kirchner dizia que “toda negociação pressupõe um grau de transgressão das regras”. Aliás, nada mais do que uma grande verdade. E assim o país vizinho não desistiu, alegando possuir a legitimidade necessária para tomar a decisão. Chegou até a vencer em todas as instâncias jurídicas internacionais, ao argumentar que as altas taxas de juros presentes nos contratos firmados com os credores eram a contraface do alto risco das operações especulativas. E que, infelizmente, havia chegado o momento do não pagamento. Quem quisesse continuar credor, portanto, deveria aceitar as condições do chamado “canje” – a troca oficial de papéis, com o desconto de 70% sobre o valor de face de cada título da dívida externa.
A grande lição foi que a negociação terminou finalmente por ser aceita pelo mundo financeiro, depois – é claro ! – de muita gritaria, chantagem e ameaça. E, ao contrário do clima artificialmente construído pelos cavaleiros do apocalipse, os investimentos estrangeiros continuaram a fluir para a Argentina ao longo dos anos. Afinal, a economia saía de anos de recessão, o emprego crescia, a produção e atividade em geral foram retomadas. E, como bem sabemos, o capital está sempre à procura de alternativas de rentabilidade. Acusado o golpe e registrada a perda eventual, vamos em frente que os negócios continuam.
No nosso caso, as promessas históricas de auditoria da dívida pública brasileira ficaram como mais uma irresponsável omissão e esquecimento. Ao contrário de Kirchner, nossos dirigentes recém chegados ao poder optaram por seguir a cartilha de adesão ao establishment neoliberal, em que “toda negociação pressupõe um grau completo de submissão”. Reinava o fetichismo de respeito às regras e aos contratos. A dívida externa foi transformada em dívida interna, mas a drenagem bilionária de recursos para pagamento de juros e serviços da mesma manteve-se inalterada. Manteve-se a continuidade do reinado das finanças sobre as demais atividades produtivas.
As relações com os meios de comunicação
Na relação com os poderosos meios de comunicação, deu-se algo semelhante. O governo da Argentina percebeu a necessidade primordial de democratizar esse que é conhecido como o quarto poder na sociedade contemporânea. Ao invés de seguir empurrando com a barriga essa relação de submissão aos interesses de um setor altamente concentrado e umbilicalmente ligado aos interesses econômicos, encaminhou um projeto ao Congresso, que ficou conhecido como “Ley de los Médios”. Enfrentou os interesses contrariados e teve a ousadia de sair para a disputa no interior da sociedade. Mais uma vez saiu vencedor e o futuro mostrará os acertos de tal opção política pública na área de comunicações.
Por aqui, todos sabemos que o setor de comunicações continua firme e forte, recebendo todas as benesses dos sucessivos governos. E, o pior, fazendo todo tipo de chantagem política contra o próprio governo, sempre que lhes for interessante. O grau de oligopolização avança a cada dia, os cruzamentos de oligarquias regionais e grupos familiares não foram tocados. Acuado pela pressão dos interesses dos meios de comunicação, o governo se restringe a tocar o barco e se esquece da importância política de um projeto democrático e nacional para o setor. Ao invés da ousadia para mudar, o que fica é a marca da submissão pelo receio.
Agronegócios e criminosos das ditaduras: lá e cá
Outro momento marcante na política argentina, foi o enfrentamento dos setores ligados à agricultura, pecuária e o agronegócio de forma geral. Como resposta a uma medida de aumento da tributação sobre suas atividades exportadoras, os representantes da agropecuária deram início a um movimento de contestação aberta e de enfrentamento ao governo. Mais uma vez, Cristina Kirchner manteve-se firme na defesa de seu projeto durante o ano de 2008, mas acabou terminando com a derrota do governo no Senado e a necessidade de recuar em sua intenção inicial. De qualquer forma, marca também uma diferença de postura em relação aos nossos dirigentes. Por aqui, a avaliação da importância do agronegócio para o desempenho da pauta exportadora tem levado os sucessivos governos a uma conduta de sujeição aos interesses desse setor, que tende a representar práticas e relações sociais atrasadas e de profunda injustiça social e econômica. A ponto de Lula ter declarado que os usineiros de cana eram os “verdadeiros heróis nacionais” e de empresas denunciadas por trabalho escravo continuarem a receber as benesses de crédito do BNDES e de outras fontes públicas de recursos. Ou então, basta ver a líder ruralista, Senadora Kátia Abreu, agora integrante da base aliada e dando a linha para o governo na votação do Código Florestal.
O julgamento e a condenação dos assassinos e torturadores do período da ditadura militar também marcam uma brutal diferença, a respeito da forma como as sociedades argentina e brasileira optaram por restabelecer a verdade. Ali, o caminho adotado não foi pautado pelo medo de enfrentar os algozes e apurar os crimes cometidos. Muito pelo contrário! Ao invés da impunidade e de homenagens sob a forma de pontes, estradas e viadutos, a Justiça foi acionada e os responsáveis estão presos ou cumpriram as penas devidas. Por aqui, em nossas terras, os sucessivos governos conformam-se com a interpretação restritiva da “anistia recíproca” de 1979, quando a própria Constituição soberana de 1988 abriu espaço para refazer a história desse período. Nem mesmo a nossa Comissão da Verdade foi ainda implantada e sua eficácia jurídica é quase nula, pois não tem poder de fazer justiça.
YPF e a Vale
E para fechar, a comparação que não quer calar é entre a YPF e a Vale. Antes dos gritinhos histéricos do “mas não dá prá comparar!”, já adianto que também acho que são processos bastante distintos. Mas a observação das semelhanças e das diferenças serve também para ilustrar as distintas posturas que os dois países adotaram para tema semelhante e crucial. Cristina optou por voltar ao processo de privatização da empresa estatal argentina, levada a cabo pelo governo Menem em 1993 – contemporâneo de nosso Collor. A avaliação foi que o setor é estratégico para a economia do país vizinho e que a empresa, controlada pela Repsol espanhola, não estaria cumprindo a contento com as necessidades da Argentina, em termos de investimento e de produção. A gritaria local e internacional também foi a mesma, como se poderia imaginar. Os interesses afetados tentam criar o clima generalizado do pré-catástrofe, com todo o apoio dos órgãos de comunicação, inclusive os do nosso lado da fronteira.
Já a nossa Vale foi privatizada, a preço de banana, sob a época de FHC. Leiloada em 1997, o seu valor da compra foi de US$ 3 bilhões, com a possibilidade de utilização de moedas podres e outras facilidades concedidas aos futuros proprietários. Uma verdadeira negociata, em nome da comemoração do “fim da era Vargas” e da supremacia da eficiência do privado sobre o público. Afinal, tudo valia pois Francis Fukuyama, um dos ideólogos do conservadorismo da época do neoliberalismo, já havia decretado o fim da História. Mas, como dizia o vizinho da minha tia, nada como um dia após o outro. As receitas liberalóides não se mostraram assim tão perenes, a crise de 2008 derrubou os alicerces daquele mundo artificial e o novo modelo ainda está por se moldar. Mas nem por isso, desse lado do continente sulamericano, o governo resolveu tomar alguma iniciativa. As antigas propostas do PT e o plebiscito a respeito da venda da Vale foram condenados ao esquecimento.
Apenas para se ter uma idéia, desde a posse de Lula até o final de 2011, a empresa privatizada já acumulou e distribuiu entre seus acionistas lucros no valor de US$ 70 bilhões! Isso sem falar do modelo espoliador das nossas reservas minerais e de exportação de renda e emprego para os países, onde a mão-de-obra e outros custos baixos justificam a ação de lesa pátria. Basta lembrarmos a política de exportação de minério de ferro bruto e a importação de manufaturados para o grupo, a exemplo dos trilhos para as ferrovias e a encomenda dos supercargueiros junto aos estaleiros chineses. E não se fique com a impressão de que tal eficiência no desempenho da empresa se deva ao gênio empreendedor de figuras como Agnelli e outros. Basta ver o caso da Petrobrás, ainda pública e batendo todos os recordes de desempenho, para se ter a noção de que se a Vale voltar a ser pública, não deverá ficar muito atrás em sua performance.
Como sempre, basta vontade política. A decisão de reestatizá-la, em termos de eficiência econômica e empresarial, só faria aumentar a auto-estima de nosso povo e poderia, eventualmente, contribuir para um modelo futuro de desenvolvimento nacional menos desigual e mais sustentável. A Argentina deu o pontapé inicial.

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Wikileaks revela gravíssima sabotagem dos EUA contra Brasil com aval de FHC

Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em ambos os países
Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir, dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial. Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa, a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses estratégicos do Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em que exibe problemática posição em relação à independência tecnológica brasileira. Segue o artigo do jornalista Beto Almeida.
O primeiro dos telegramas divulgados, datado de 2009, conta que o governo dos EUA pressionou autoridades ucranianas para emperrar o desenvolvimento do projeto conjunto Brasil-Ucrânia de implantação da plataforma de lançamento dos foguetes Cyclone-4 – de fabricação ucraniana – no Centro de Lançamentos de Alcântara , no Maranhão.

Veto imperial


O telegrama do diplomata americano no Brasil, Clifford Sobel, enviado aos EUA em fevereiro daquele ano, relata que os representantes ucranianos, através de sua embaixada no Brasil, fizeram gestões para que o governo americano revisse a posição de boicote ao uso de Alcântara para o lançamento de qualquer satélite fabricado nos EUA. A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que os EUA “não quer” nenhuma transferência de tecnologia espacial para o Brasil.
“Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”, diz um trecho do telegrama.
Em outra parte do documento, o representante americano é ainda mais explícito com Lokomov: “Embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”.

Guinada na política externa


O Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.
Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja, finalmente, implementado como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.

Bomba! Bomba!


O outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks e que também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de um físico brasileiro, o cearense Dalton Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército. Girão publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja tecnologia é guardada a 7 chaves.
A primeira suspeita revelada nos telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto, contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998. Tal como o Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por terroristas, os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil, chegando mesmo a propor o recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército Brasileiro”.
Como é conhecido, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras. Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão armados, o que não está ocorrendo.

Desarmamento unilateral


A revista publica providencial declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a proposta que Mahmud Ajmadinejad, presidente do Irã, apresentou à Assembleia Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à opinião pública mundial.

Intervencionismo crescente


O semanário também publica franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso: “Não havendo inimigos externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo, desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de um candura formidável.
São conhecidas as sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo Wikileaks.
Do Pragmatismo Político
No Senta a Pua

Só se desenvolve quem se defende

O professor Luís Carlos Bresser Pereira, de quem o pior que se pode dizer é que acreditou um dia que o PSDB fosse um partido social-democrata, publica hoje na Folha um artigo imperdível.
Um texto direto, que contesta a postura do “atrair capital estrangeiro a qualquer preço” que, aliás, marcou o período FHC.

A Argentina tem razão

A Argentina se colocou novamente sob a mira do Norte, do “bom senso” que emana de Washington e Nova York, e decidiu retomar o controle do Estado sobre a YPF, a grande empresa petroleira do país que estava sob o controle de uma empresa espanhola. O governo espanhol está indignado, a empresa protesta, ambos juram que tomarão medidas jurídicas para defender seus interesses. O “Wall Street Journal” afirma que “a decisão vai prejudicar ainda mais a reputação da Argentina junto aos investidores internacionais”. Mas, pergunto, o desenvolvimento da Argentina depende dos capitais internacionais, ou são os donos desses capitais que não se conformam quando um país defende seus interesses? E, no caso da indústria petroleira, é razoável que o Estado tenha o controle da principal empresa, ou deve deixar tudo sob o controle de multinacionais?
Em relação à segunda pergunta parece que hoje os países em desenvolvimento têm pouca dúvida.
Quase todos trataram de assumir esse controle; na América Latina, todos, exceto a Argentina.
Não faz sentido deixar sob controle de empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola.
Além disso, já foi o tempo no qual, quando um país decidia nacionalizar a indústria do petróleo, acontecia o que aconteceu no Irã em 1957. O Reino Unido e a França imediatamente derrubaram o governo democrático que então havia no país e puseram no governo um xá que se pôs imediatamente a serviço das potências imperiais.
Mas o que vai acontecer com a Argentina devido à diminuição dos investimentos das empresas multinacionais? Não é isso um “mal maior”? É isso o que nos dizem todos os dias essas empresas, seus governos, seus economistas e seus jornalistas. Mas um país como a Argentina, que tem doença holandesa moderada (como a brasileira) não precisa, por definição, de capitais estrangeiros, ou seja, não precisa nem deve ter deficit em conta corrente; se tiver deficit é sinal que não neutralizou adequadamente a sobreapreciação crônica da moeda nacional que tem como uma das causas a doença holandesa.
A melhor prova do que estou afirmando é a China, que cresce com enormes superavits em conta corrente. Mas a Argentina é também um bom exemplo. Desde que, em 2002, depreciou o câmbio e reestruturou a dívida externa, teve superavits em conta corrente. E, graças a esses superavits, ou seja, a esse câmbio competitivo, cresceu muito mais que o Brasil. Enquanto, entre 2003 e 2011 o PIB brasileiro cresceu 41%, o PIB argentino cresceu 96%.
Os grandes interessados nos investimentos diretos em países em desenvolvimento são as próprias empresas multinacionais. São elas que capturam os mercados internos desses países sem oferecer em contrapartida seus próprios mercados internos. Para nós, investimentos de empresas multinacionais só interessam quando trazem tecnologia, e a repartem conosco. Não precisamos de seus capitais que, em vez de aumentarem os investimentos totais, apreciam a moeda local e aumentam o consumo. Interessariam se estivessem destinados à exportação, mas, como isso é raro, eles geralmente constituem apenas uma senhoriagem permanente sobre o mercado interno nacional.

Helena Sthephanowitz disse e o Aposentado Invocado diz: Só no Brasil a indústria nunca muda e está sempre atrás de benesses com os recursos do erário. Os empresários do setor reclamam diuturnamente e são incapazes de inovar. Conhecimento não é a praia da indústria brasileira. Por que não investir numa montadora de automóveis, sem vender depois, em máquinas para agricultura, em eletro-eletrônicos, em comunicação, na indústria ótica? Não, eles querem financiamento do BNDES para comprar máquinas e equipamentos no exterior e não investem em tecnologia para competir. Até as usinas de álcool para carros estão sendo vendidas para os estrangeiros, que investem em melhorias para produzir mais e melhor. É só chororô!

Na classe C, 25,5 milhões querem abrir seu negócio

Segunda-feira 23, abril 2012
A nova classe média brasileira forma um público consumidor que alcança hoje um poder de compras superior a R$ 1 trilhão, a maior parte gasta em alimentos. Essa parcela da população traz tremendas oportunidades de negócios para o desenvolvimento do empreendedorismo, informa Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, consultoria voltada para as camadas de baixa renda. “É um consumo gigantesco, voltado principalmente para a aquisição de serviços”, diz o consultor. Segundo uma pesquisa realizada neste ano pelo instituto, de cada R$ 100 gastos por essa população, pelo menos R$ 65,20 são desembolsados para a contratação de serviços e R$ 34,80 para a compra de bens. “Isso abre grandes oportunidades para investimentos em empreendimentos no setor de serviços”, destaca.
Os próprios emergentes que subiram um degrau na pirâmide e passaram a compor a classe média podem ser futuros empreendedores, ensina Meirelles. O estudo do Data Popular mostra que seis em cada dez pessoas da classe C querem abrir a própria empresa em algum momento da vida. São 25,5 milhões de brasileiros com planos de abrir seu próprio negócio, a maior parte no Norte e Nordeste.
“O emprego formal nos trouxe até aqui, mas é o empreendedorismo que vai nos levar adiante. A carteira assinada e o concurso público deixam de ser vistos como fim. A classe C os vê como trampolim para chegar ao ponto de abrir o próprio negócio”, reforça o consultor. Mas, segundo a pesquisa, apenas um terço dos futuros empreendedores admite estar preparado; a grande maioria das pessoas que desejam empreender indica não ter muito conhecimento para isso. “É um campo de oportunidades para a ação de entidades como o Sebrae “, comenta.
Estudos da consultoria revelam que, entre 2002 e 2011 a classe C ganhou 31 milhões de pessoas, cresceu 38% e engordou sua renda em nada menos do que 62%. Hoje, são mais de 103 milhões de brasileiros que contam com renda e crédito da ordem de R$ 1,3 trilhão, o equivalente a 53% da população. Até 2014, serão 60%. No comando do novo grupo de ávidos consumidores estão 52,9 milhões de mulheres mais informadas, com grau de escolaridade superior ao dos homens e com poder de decisão incontestável. Afinal, juntas, elas devem somar uma massa de rendimentos da ordem de R$ 333,3 bilhões neste ano. “Elas trazem mais dinheiro para casa do que as colegas da classe A, pois respondem por 41% da renda familiar. As mulheres do topo da pirâmide contribuem com apenas 25% da renda”, afirma Meirelles, responsável pela pesquisa As Poderosas da Nova Classe Média Brasileira.
Além disso, é o novo exército do batom que responde por 70% das compras da casa e incluiu em sua lista de prioridades alguns itens de beleza, de informática e até eletrodomésticos que facilitem a sua vida. Em 2010, gastaram com produtos para o corpo, cabelo e rosto cerca de R$ 19,7 bilhões, contra R$ 6 bilhões no início da década. “Atualmente, 56% dos perfumes importados, com tíquete médio de R$ 300, são comprados por essas mulheres”, enfatiza Meirelles. “Mas isso não significa que elas esbanjem dinheiro. Pelo contrário, 71% afirmam planejar antes de ir às compras, além de criar o próprio crédito para as chamadas indulgências.” Ou seja, poupam para pagar à vista e preferem poucas prestações, reservando o grosso do carnê para itens mais caros como carro e viagens, por exemplo.
O perfil do carrinho do supermercado também não é mais o mesmo. A classe C aprecia produtos com mais proteínas, vitaminas, qualidade e que façam bem para a saúde. Não precisa ser necessariamente diet e light, é essencial que faça bem. Entre um alimento congelado e um semi-pronto, preferem o segundo, que permite dar um toque de tempero pessoal ao prato. E, ao contrário de outros tempos, quanto mais prático melhor.
“É importante salientar que elas buscam tanto na alimentação quanto nos produtos para higiene, beleza, limpeza e no guarda-roupa marcas boas e de qualidade, mas com o jeito delas”, afirma Meirelles. E o que isso quer dizer? Que as mulheres da classe C adotam as marcas líderes porque sabem que não perdem dinheiro pela eficiência já constatada; querem usar as roupas da moda, mas não abrem mão das cores, da estampa e dos modelos mais justos.
De olho no público que passou a estudar mais, tem dinheiro no bolso e quer viajar de avião pela primeira vez, o empreendedor Thomas Rabe, 49 anos, abriu em São Paulo, em 2009, a Vai Voando, primeira empresa a trazer para o mercado de transporte aéreo o sistema pré-pago. A compra não exige comprovação de renda, fiador ou consulta de proteção ao crédito. “É o cliente que diz quando quer viajar e até a data do embarque pode parcelar a passagem, que é paga por meio de boletos, um sistema com o qual esse público está bem familiarizado”, diz Habe. “Assim, não há inadimplência.”
A média de embarque é de 2 mil passageiros por mês, principalmente para o Nordeste. São pagos em média em três parcelas. Segundo o empreendedor, 100% dos pontos de venda da Vai Voando, que espera faturar neste ano R$ 20 milhões, estão localizados na periferia de São Paulo e Rio de Janeiro. Nos próximos 60 dias, a agência deverá incrementar o serviço de venda de passagens de ônibus e de hotéis selecionados para esse perfil socioeconômico. “Até o próximo ano estaremos vendendo também pacotes de viagens”, adianta. Valor Econômico

Por

domingo, 22 de abril de 2012

Painel Global - Monitoramento da Terra em Tempo Real

Painel Global - Monitoramento da Terra em Tempo Real

Enquanto O Globo Corrupções Ltda nos brindava com sua notícia que em Brasília 1500 ou 6000 pessoas gritavam que queriam o "mensalão já", o governo de Dilma passou a ter 93% de aprovação, bem como pessoalmente, e Lula foi solicitado para substituir Dilma, em 2014, mas avisou que só vai substituí-la em 2019. É de chorar de tanto rir!


Bom dia, caros leitores! Hoje é um domingo abençoado e a felicidade pula em meu coração. Ver a imprensa corrupta, golpista, ultra racista e ladra brasileira tentando explicar que Lula é o preferido para ser o próximo presidente da República Federativa do Brasil, no lugar de Dilma, é maravilhoso porque, segundo essa ótica, teremos Lula e Dilma até 2026. É de chorar de tanto rir!

MARCOS COIMBRA:"E os rostos dos parlamentares da oposição? De onde vinha tanta alegria? "

MARCOS COIMBRA
 
Afinal, a CPI é a “cortina de fumaça” que o lulopetismo inventou para esconder os malfeitos do mensalão — como estampou, na capa, a revista Veja —, ou o Dia do Julgamento Final para o PT?

São análises engraçadas. Por elas, parece que Lula não passa de um principiante, um aprendiz de feiticeiro, que deixa livres forças que é incapaz de controlar. Que teria cometido um erro infantil, ignorando a verdade acaciana — que muitos adoram repetir — que “todo mundo sabe como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina”.

Achar isso de alguém como Lula — que já deu as mais óbvias provas de que é tudo, menos tolo — é pura pretensão. E não há, na política, erro maior que subestimar o outro lado.

E os rostos dos parlamentares da oposição? De onde vinha tanta alegria?

De quem é a CPI? Quando Lula afirma que a CPI deve ser feita doa a quem doer, podemos apostar que sabe o que diz. E que já calculou em quem doerá mais.Faz tempo que, na política, não temos um caso tão estranho como esse da CPI do Cachoeira. Quanto mais se leem os jornais, menos se compreende o que está acontecendo.

MARCOS COIMBRA »

Uma CPI para a revista Veja

O delegado Paulo Lacerda tinha tudo para ser um ícone do funcionalismo público. Funcionário exemplar, foi responsável pela transformação da Polícia Federal em uma organização eficiente e peça chave na luta contra a corrupção e o crime organizado.

A virada da PF foi o primeiro alento, para o cidadão comum, de que o crime organizado poderia ser combatido de forma eficiente pelo Estado.

Nomeado para a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), estava pronto a repetir o trabalho na PF e a dotar o Sistema Brasileiro de Inteligência (o SISBIN, a coordenação das diversas agências públicas no combate ao crime organizado) em uma organização exemplar.

Em 2007, junto com o general Félix, Ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) visitou os Estados Unidos atrás de modelos de atuação contra o terrorismo e o crime organizado, remodelado após os atentados de 11 de setembro.

Visitaram o Departamento de Defesa, a CIA, o Tesouro, o FBI e um novo órgão, o Departamento Nacional de Inteligência, criado justamente para supervisionar a ação dos demais e integrar as investigações.

Havia a necessidade de um supervisor similar no Brasil, capaz de coordenar as informações provindas da PF, da Receita, Banco Central, COAF, INSS etc. Como a ABIN é um órgão de inteligência,

Decidiram criar um Departamento de Integração do SISBIN dentro da Agência. Reformou-se um anexo da ABIN, instituíram-se concursos que trouxeram novos funcionários, de alto nível, definiu-se uma política de cargos e salários.

O DI ficou em um andar inteiro. Havia um imenso corredor, com um conjunto de salas, cada qual destinada a um órgão da SISBIN. Não havia ingerência da ABIN. Cada órgão indicava um funcionário para trabalhar seu banco de dados, sem obrigação de passar os dados para o grupo.

No fim do corredor, uma sala onde haveria reuniões diárias de todos para analisar as demandas e definir as estratégias de combate ao crime organizado.

Estava tudo pronto para começar, quando estourou a Satiagraha. E aí, uma ação conjunta de Daniel Dantas, da revista Veja, do então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e do Ministro da Justiça Nelson Jobim, destruiu o trabalho e atrasou em anos o  avanço da luta contra o crime organizado.

Primeiro, foi a história do “grampo sem áudio” – o telefonema supostamente gravado entre Gilmar Mendes e o lugar-tenente do bicheiro Carlinhos Cachoeira, senador Demóstenes Torres -, repercutido com exclusividade pela Veja.

Depois – mais grave ainda – o falso alarme do STF de que teria havido escuta no órgão. Com base em um relatório que tecnicamente não comprovava escuta, homens de confiança de Gilmar abasteceram a revista – sempre a Veja - com falsas denúncias.

O terceiro tiro foi dado por Jobim que, com base em uma lista falsa, acusou a ABIN de dispor de equipamentos de escuta. A denúncia, mais uma vez, arquitetada com a Veja.

A soma de pressões obrigou ao afastamento de Paulo Lacerda e sua aposentadoria do serviço público.

Nesse período, a revista se aliou a dois esquemas barra-pesadas, o do Banco Opportunity e o de Carlinhos Cachoeira.

A CPI será uma boa oportunidade de passar essas histórias a limpo.

Quem não assinou requerimento para abertura da CPMI

117 Deputados e 9 Senadores não deram seu aval para a abertura da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Cachoeira.
Confira quem não assinou:
 DEPUTADOS  
 SENADORES 
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